AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O "DARK SIDE" DA ECONOMIA

O presidente do Observatório de Economia e Gestão de Fraude, Carlos Pimenta, afirma que com a política de austeridade, a degradação da classe média e o agravamento das desigualdades sociais, vão aumentar as fraudes e a economia paralela.
A economia paralela representará em Portugal cerca de 24 % do PIB português, facto que não pode ser desligado da fraude e corrupção. Aliás, uma das imposições da "troika" é justamente a obrigatoriedade de existência a curto prazo de um plano contra a fraude e a evasão fiscal.
Neste universo parece de relembrar que, segundo o último relatório da Transparency International, Portugal é um dos 21 países em que existe "pouca ou nenhuma implementação" da Convenção anti-corrupção da OCDE. Considerando ainda os últimos indicadores do Barómetro Global da Corrupção, também no âmbito da Transparency International, 83% dos portugueses acham que piorou a questão da corrupção e 75% não acredita na eficácia do combate.
Este outro lado da economia que envolve desde a fuga de capitais para paraísos "off-shore", à habilidade individual da ausência de recibo no dia-a-dia, está completamente enraizado, é apenas uma questão de escala e as dificuldades resultantes da crise e dos aumentos de impostos potenciarão, muito provavelmente, esse lado paralelo da vida económica.
Este funcionamento quase que faz parte da nossa cultura, a do "dar um jeitinho", "fazer uma atençãozinha" ou arranjar “um esquema”. Com alguma regularidade aqui tenho me referido a esse "traço" da nossa cultura cívica "a atençãozinha" ou à sua variante "dar um jeito". Trata-se de um fenómeno, um comportamento generalizado e com o qual parecemos ter uma relação ambivalente, uma retórica de condenação, uma pontinha de inveja dos dividendos que se conseguem e a tentação quotidiana de receber ou providenciar uma "atençãozinha" ou pedir ou dar um jeito, sempre "desinteressadamente", é claro.
Por outro lado, o cidadão comum, nós, sentimos, creio, algo de muito significativo, não acreditamos que exista verdadeira vontade política de combater a corrupção apesar de algumas iniciativas recentes da AR neste domínio. A teia de interesses que ao longo de décadas se construiu envolvendo o poder político, a administração pública, central e autárquica, o poder económico, o poder cultural, a área da justiça e segurança, parte substantiva da comunicação social e muito do nosso funcionamento quotidiano, dificulta seriamente um combate eficaz e mudança cultural nesta matéria. Este combate passará, naturalmente, por meios e legislação adequada, mas passa sobretudo pela formação cívica que promova uma outra cidadania. Estarão lembrados que há alguns meses atrás foram divulgados estudos evidenciando a nossa atitude tolerante para com a corrupção.
Certamente que poderíamos viver o “esquema”, mas não era a mesma coisa.

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