Durante um telejornal televisivo de hoje passou uma peça sobre uma experiência de ensino do mandarim a crianças que me pareceram entre os seis e os oito anos. A actividade desenvolve-se aos sábados de manhã e os pais ouvidos referiram que a aprendizagem do mandarim para os seus filhos tinha como objectivo prepará-los para o futuro, para desenvolver competências, enfim, procurar garantir, digo eu, provavelmente, um lugarzinho na EDP em substituição de Eduardo Catroga.
Mais a sério, fiquei a pensar e inquieto com estes discursos que radicam num olhar sobre a vida crianças que se tem vindo a instalar entre nós.
De uma forma geral e em consequência dos estilos de vida que adoptámos ou nos sentimos obrigados a adoptar, (mas não só), as crianças passam tempos infindos na escolas. Recordemos que os modelos de organização escolar em funcionamento, envolvendo, por exemplo, as Actividades de Enriquecimento Curricular, permitem a presença dos miúdos na escola por vezes até às 10-11 horas diárias o que, apesar de algumas excelentes experiências neste âmbito, levanta um sério risco de intoxicação escolar, por assim dizer.
Por outro lado, também sinais dos tempos, tem vindo a emergir um mercado de oferta para crianças, logo de bebés, e pais que se propõe ocupar o já pouco tempo em que estão juntos. Esta oferta não pára de crescer e é de uma diversificação que me deixa perplexo. Temos as oficinas, os ateliers, os playcenters, os workshops, os espaços lúdicos, etc. destinados à música, do jazz à clássica, à dança ou à literatura, contos e histórias, às actividades expressivas, plásticas ou artísticas, a designação também varia, em toda a sua gama e diversidade. Temos a filosofia para crianças destinada eventualmente aos mais reflexivos. Temos as actividades desportivas, várias modalidades, e de ar livre em diferentes versões e natureza, quintas pedagógicas, contacto com animais e espaços de aventura, por exemplo. Enfim, uma oferta em desenvolvimento e para todas as bolsas.
É claro que a realização de todas, mesmo todas, estas actividades são imprescindíveis aos miúdos pois promovem níveis fantásticos de desenvolvimento intelectual e da linguagem, desenvolvimento motor, maturidade emocional, criatividade, interacção social, autonomia e certamente mais alguns aspectos de que agora não me lembro mas que a peça sobre a aprendizagem do mandarim actualizou em mais alguns efeitos positivos.
Os pais, alguns pais, seduzidos pela sofisticação desta oferta e com a culpa que carregam, deixam-se fechar com os seus filhos ou deixam que os seus filhos sejam fechados dentro destes “espaços de liberdade”, comprando, assim, mais um serviço educativo e transformando a vida dos miúdos numa agenda.
Não esqueço que em todos estas iniciativas alguma coisa pode acontecer de interessante para as crianças e para os pais e também não duvido da seriedade dos responsáveis, mas continuo convencido que a melhor utilização que pais e filhos podem dar ao (pouco) tempo livre que têm em conjunto, é … claro, conversar e brincar livremente em conjunto.
"prepará-los para o futuro" é de facto muito bom. para além de lhes esvaziar o presente, de tão cheio, pergunta-se ainda: qual futuro? Nostradamus, volta!
ResponderEliminarCompetitividade, produtividade, competitivdade, produtividade, ... que felicidade!
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