AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

OS RETRATOS DOS MIÚDOS

Num destes dias, na sala de professores, comentava-se o arranque do segundo período e o que se esperava dos alunos e como muito deles dificilmente recuperariam a tempo de conseguir transitar de ano, passar, como a gente diz.
O Professor Velho, o que está biblioteca e fala com os livros, estava a ouvir e a certa altura naquele jeito dele, sereno e meio enigmático disse, "algumas vezes o problema é dos retratos, é por causa dos retratos que alguns miúdos não conseguem ser bem sucedidos".
Os professores que estavam na conversa, embora já conhecessem o Professor Velho, também desta vez não entenderam muito bem o que ele estava a dizer sugerindo-lhe a explicação.
Os adultos de uma maneira geral, mas os adultos da escola de forma mais particular quando olham pelas primeiras vezes para os miúdos tiram-lhes o retrato, ou seja, constroem a sua imagem, retrato, desses miúdos. Acontece que, como vocês sabem os retratos são algo de definitivo, parado, aquele momento ficou ali e não vai mudar. No entanto, os miúdos retratados continuam a sua vida e muitas vezes mudam, mudar é próprio as pessoas. A questão é que continuamos a vê-los como os retratámos, como se eles não mudassem.
Ora os miúdos que retratámos como "pouco espertos", "pouco trabalhadores", "distraídos", "incompetentes", etc., muito dificilmente conseguem sair desse retrato. Se atentarmos bem, quando achamos que um miúdo que tem o retrato de "mau aluno" faz algo de bom, pensamos que ele deve ter tido ajuda e, ao contrário, quando um miúdo que retratamos como "bom aluno" faz algo de menor qualidade, achamos que ele deve ter estado doente, por exemplo.
É por isso, eu acho, continuava o Professor Velho, que alguns dos miúdos que vocês acham no início do segundo período que não irão ter sucesso no final do ano, estarão fechados nos retratos que deles fizeram.
É por estas razões que me parece, concluiu, que os retratos na sala de aula não ajudam muito. Ninguém cabe e fica para sempre num retrato, só o momento é que fica, bom ou mau.

6 comentários:

  1. O Professor velho não é nada mais nada menos do que o transmissor do que o Professor José Morgado cogita, não o quer dizer abertamente e utiliza interposta personagem. Diplomaticamente está correcto. Não vale a pena hostilizar abertamente a classe a que pertencemos.

    O Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros utilizou descaradamente o EUFEMISMO "RETRATO" para chamar a atenção de uma realidade chamada PRECONCEITO ou seja, aversão a qualquer particularidade fisionómica do aluno, a alguma atitude irreverente, própria dos jovens (ou outra) que desagrade ao Professor em exercício.

    Penso que esta atitude é sempre involuntária. Mas também penso que a primeira impressão normalmente é sempre indelével. Aluno com tal labéu terá sempre de esforçar-se mais do que um aluno NEUTRO para modificar tal situação.

    Mas os professores são humanos, têm que viver com isto e tentar contrariar a sua própria humanidade nesta situação concreta. Eu acredito que sim!


    saudações

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  2. Meu caro, o que quero dizer abertamente digo-o, quando vale a pena, não tem rigorosamente a ver com pertença de classe. Quanto aos "retratos" de que eu falo, não saõ preconceitos que, em termos de conceito, não tem muito a ver com aquilo que escrevi. Não falei de preconceitos nem, insisto, os retratos de que falo são preconceitos.

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  3. É uma questão de semântica caro Professor.


    saudações

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  4. Com as minhas mais profundas desculpas, não é uma questão de semântica, é apenas uma questão de conhecimento. Mas não é relevante a discussão, fica por aqui mesmo.

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  5. À sua revelia e com as minhas profundíssimas desculpas, peço-lhe que contribua para melhorar os meus conhecimentos.

    Dada a sapiência do Professor Velho, o que está na biblioteca e fala com os livros, leva-me a crer que é normal os adultos da Escola, neste caso os Professores, tirarem o "RETRATO" aos alunos.
    Retrato esse que os leva a adjectivar de "pouco esperto" "pouco trabalhador" "distraído" "incompetente" quando olham pelas vezes para os miúdos.

    A minha ignorância leva-me a perguntar: Isto é PRECONCEITO, PRESSUPOSTO ou linguagem docente codificada ?

    Ou eu sou mesmo burro ?!

    Se calhar sou...


    saudações

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  6. Professor, tem razão. As pessoas na generalidade tendem a escolher uma imagem, normalmente a que lhes convém, por esta, ou aquela caracteristica, os professores não são excepção! eu própria que tento ser neutra no meu dia a dia, já achei que um rosto e certas características eram especiais, imaginei o máximo daquela personalidade, que enquanto não conheci continuou a ser extraordinária e sabe, foi a pior decepção da minha vida como pessoa.
    No entanto, quem sabe se não será bem assim? quem sabe se não tirei bem o retrato? Vou tentar ser uma fotografa mais racional. Percebi o seu sentir e concordo plenamente. Somos todos uns demagogos, só não admitimos!!! um abraço

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