No DN lê-se que algumas creches consideram a hipótese de abrir ao sábado para receber as crianças cujos pais tenham que trabalhar ao sábado em consequência das alterações nas leis laborais.
Começam assim a aparecer algumas das consequências do equívoco instalado de remeter quase que exclusivamente para o tempo de trabalho a questão da produtividade e competitividade, quando as comparações internacionais contrariam a tese. A questão, como já tenho referido, é melhor trabalho e não mais trabalho. As questões relativas ao impacto na vida familiar e na qualidade de vida das pessoas são minudências irrelevantes pois há sempre a possibilidade de abrir creches e escolas ao sábado e, um dia, também durante a noite, situações que, aliás, pontualmente já acontecem. Qual será o limite?
Bom dia, venho apresentar uma queixa.
Com certeza, contra quem?
Contra muita gente.
Será, portanto, contra incertos. E apresenta queixa porquê?
Por roubo, roubaram-me tempo.
Muito bem, então roubaram-lhe tempo. Por favor, pode explicar um pouco melhor para eu poder registar a situação.
Eu já não tinha muito tempo porque nunca fui uma pessoa muito rica de tempo, mas o pouco que tinha roubaram-me. Fiquei sem tempo para estar com os meus filhos e brincar com eles. Este tempo faz-me muita falta, os miúdos andam tristes porque desde que me roubaram o tempo não consigo mesmo. Já não tenho tempo para descansar ou ler qualquer coisa como gostava de fazer. Não tenho tempo descansado para a minha mulher que também precisava do tempo que eu tinha e que partilhava com ela. No meu trabalho não tenho tempo para parar um minuto sem que alguém venha logo chamar a atenção. Fiquei sem o tempo que tinha para beber um copo com os meus amigos e trocar umas lérias que serviam para aliviar das coisas da vida.
Eu percebo o seu problema, mas como deve calcular não tenho tempo para queixas como as que apresenta.
Não tem tempo? Não me diga que também lhe roubaram o tempo. Até às autoridades, é demais.
Queixo-me do mesmo mal mas não tive tempo de apresentar queixa.
ResponderEliminarAinda bem que o fizeste por mim.
"E a seguir?", a seguir é o o que se vive agora, um speed na sociedade, que sobrepõe a produtividade ao bem-estar. De que serve então a primeira? Eis um bom exemplo dessa pressa constante e falta de tempo, o qual, por se tratar de uma criança, dá uma excelente e nítida imagem daquilo que se vive hoje em dia: uma pessoa minha amiga perguntava ao sobrinho que estava a fazer "estou a fazer um desenho, mas tenho que ser rápido!" "Mas vais a algum lado a seguir?" "Não tia, mas tenho que ser rápido!" O miúdo tem 4 anos... isto é digno de um grande e triste LOL
ResponderEliminarAnónimo, essa história é notável e um sinal dos tempos, vá passando e contando
ResponderEliminarTodos sabemos que o tempo é relativo. Mas é da noção que temos da passagem do tempo que vamos saboreando a nossa passagem pela vida. Quando era criança, fechava-me no sotão a brincar. Perdia a noção do tempo ao ponto de não saber se já tinha almoçado ou jantado. O dia tinha uma dimensão enorme, comparada com a minha pequenez. Um ano era interminável e lembro-me de, juntamente com os meus irmãos suspirar pelo NAtal que tardava em chegar. Hoje vejo os meus filhos com uma noção do tempo totalmente diferente - voa para eles, crianças, quase como para mim. Não sei se isso será tão mau como me parece, mas tenho saudades do tempo em que o meu tempo custava a passar. E tenho pena que os meus filhos não possam saborear anos e dias quase intermináveis.
ResponderEliminarMLurdes