Não pode deixar de nos surpreender e interpelar a tragédia, o sofrimento e o mistério envolvidos na situação hoje conhecida da criança que sobreviveu a uma queda de 20 metros, para a qual foi arrastada numa tentativa sucedida de suicídio da mãe.
O milagre da sobrevivência da criança com apenas 20 meses, aparentemente sem problemas físicos gravidade significativa, é um dramático exemplo da resistência das crianças embora, tragicamente, algumas narrativas tenham desenlaces irreversíveis.
A vida de muitos miúdos é uma prova constante de obstáculos, alguns bem difíceis de enfrentar.
Muitos miúdos passam o dia a saltitar entre actividades e a correr de espaço para espaço sem tempo para respirar.
Muitos miúdos vivem em famílias que experimentam tremendas dificuldades em assegurar patamares mínimos de bem-estar e qualidade de vida.
Muitas crianças são vítimas de maus-tratos e negligência que transforma a sua vida num inferno inaceitável.
Muitos miúdos e adolescentes são fortemente pressionados pelas famílias para a excelência do desempenho, vivendo angustiadas perante o risco do fracasso e de se sentirem responsáveis por expectativas familiares defraudadas.
Muitos miúdos e adolescentes vivem em ambientes familiares e escolares afectivamente hostis, ameaçadores da sua auto-estima e confiança, quando não vitimizados por fragilidades que demonstram.
Muitos adolescentes sentem-se perdidos e incapazes de construir um projecto de vida viável capaz de os rebocar até ao futuro.
Os exemplos poderiam crescer, mas parecem suficientes para mostrar o nível de especialização que muitas crianças, adolescentes e jovens já atingiram na resistência ao que a vida lhes coloca pela frente.
Muitas crianças escrevem diariamente narrativas de sobrevivência, têm de ser de ferro. Esta criança é apenas mais uma história de resistência, vai bem com o Natal.
E a Mãe? Porquê?
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