AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 25 de dezembro de 2011

SÃO OS LOUCOS DE LISBOA

São os loucos de Lisboa, que nos fazem duvidar ... diz o poema de João Gil. A história de José, o homem que planta diariamente uma flor no Metro e que hoje o Público retrata, recordou-me uma outra figura de Lisboa, o senhor João Serra, o Senhor do Adeus ou, como ele preferia, o Senhor do Olá e que partiu há cerca de um ano.
O Senhor do Adeus gostava da solidão e, por isso, num tempo em que se dá pouco, João Serra dava, coisa pouca dir-se-á, um sorriso e um adeus a quem passava, sobretudo no Saldanha à noite, todos as noites. Com bom ou com mau tempo, porque a solidão não tem descanso.
Dar qualquer coisa já não parece muito saudável, dar afecto e simpatia é loucura, certamente.
Parece ser também a narrativa do José, a partir da solidão planta flores no Metro que alimentam a ideia de fazer crescer relações. Claro que espalhar flores no Metro é coisa de loucos ou de românticos, que nós saudáveis e normais achamos bizarro, fora do tempo. Creio no entanto que, apesar dos discursos, sentimos uma ponta de inveja pela coragem.
Fazem falta, os loucos de Lisboa.
Que nos fazem duvidar.

3 comentários:

  1. É interessante o seu texto, pelo que revela de si. Mais do que uma mera aproximação, linear, desprovida de confirmações realistas. Tentemos descortinar e subsiste a ideia de que invejamos esta pessoa, capaz de dar, admirámo-la pela sua coragem, pela sua atitude tão pouco ortodoxa, uma que foge ao padrão de curva gaussiana que a maioria dos cidadãos seguem e assim a constroem como algo normal, reificam um número, elevam-no de um mero plano etéreo e aproximam nos dos mortais, tornando vísivel, mensurável, atitudes e comportamentos. O amor tem destas coisas, ou melhor a solidão, porque é uma fuga à solidão, uma tentativa hercúlea de se manter à superfície de se sentir reconhecido, essa flor que obsessivamente é deixada todos os dias no alarme do metro é uma chamada de atenção, para o individuo que coloca fora do seu self o sinal de alarme que sente dentro de si. Mas assomemos à superfície, deixemos de lado a psicologia invertida, esta engenharia da mente e terminemos com uma questão, que creio não será respondida.

    De que duvida caro Blogger?

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  2. Caro Marco Santos, em primeiro lugar agradeço o seu comentário que gostei de ler. A minha abordagem socorreu-se da letra de uma conhecida canção e daí a utilização da fórmula do João Gil "que nos fazem duvidar". A mim, os "loucos" como o José ou o Senhor do Adeus fazem-me duvidar, por exemplo, da "normalidade" e cinzentismo que se esconde e acomoda na gaussiana curva que você refere e que nos transforma, agora cito os Pink Floyd, em "another brick in the wall". Apareça sempre.

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  3. Apareço com certeza. Bem haja.

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