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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

QUEM ESPERA DESESPERA

O Ministro da Saúde afirmou há semanas no Parlamento que nos hospitais portugueses existem 1000 especialistas a mais, ao mesmo tempo que confirmou a já reconhecida falta de médicos de família, isto é, existirão 1,7 milhões de pessoas sem médico.
Esta afirmação do Ministro sobre o excesso de especialistas que contraria, aliás, dados há semanas divulgados por estruturas da saúde. Gostava de relembrar que o relatório do Observatório dos Sistemas de Saúde sobre 2010 vem evidenciar algo que muitos de nós já experimentámos, os excessivos tempos de espera por consultas de especialidade.
Em muitos estabelecimentos hospitalares estes tempos ultrapassam largamente o que está definido pela Carta de Direitos de Acesso aos Serviços de Saúde. Por exemplo, está determinado que uma consulta de prioridade normal não pode exceder os cinco meses de espera e uma “muito prioritária” deverá realizar-se num tempo não superior a trinta dias.
Mesmo nos casos de urgência, portanto, considerados prioritários, com trinta dias de espera máxima, existem especialidades em que o tempo de espera ultrapassa o dobro, existindo centros hospitalares e especialidades em que é superior a três anos, isso mesmo, três anos e cerca de 600 dias para doentes muito prioritários.
Esta situação verifica-se também no que respeita a actos cirúrgicos em várias especialidades.
Hoje no Público e com a confirmação do Ministério da Saúde, noticia-se o abaixamento significativo do número de cirurgia programadas, 26 272 a menos só entre Setembro e Outubro devido aos cortes orçamentais. A situação tenderá a agravar-se a partir de Janeiro e as listas de espera estão a disparar exponencialmente.
Ainda a propósito do universo da Saúde o Director da Escola Nacional de Saúde Pública referia há pouco tempo que previsivelmente acontecerão situações de falta de tratamento por falta de condições financeiras, quer no que respeita aos serviços, quer por dificuldades das próprias pessoas.
Vale a pena recuperar algumas notas de um estudo realizado pela DECO sobre a acessibilidade dos portugueses aos serviços de saúde em 2009/2010 e que, como será previsível se estarão a gravar significativamente.
Em primeiro lugar, seis em cada dez famílias exprimem dificuldades em suportar as despesas com a saúde. Destas, quase metade adiaram o início de terapias e cerca de 40% nem pondera iniciá-las por questões económicas. Cerca de 20% contraíram créditos para este efeito. Sabemos também que contamos com cerca de 18% de pessoas em situação de risco de pobreza, sendo que entre a população idosa o número é maior, 22%.
Este cenário evidencia as dificuldades enormes que milhões de portugueses sentem no que respeita ao acesso a um direito, o direito a cuidados básicos de saúde, sendo também reconhecida existência de dificuldades do acesso a alguns actos médicos originando listas de espera muito significativas em várias especialidades clínicas.
A notícia de hoje é elucidativa. Como diz o povo, quem espera desespera.

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