O DOBRO DOS LICENCIADOS. É bom mas é muito pouco

Os resultados do Censo 2011 que têm vindo a ser divulgados são interessantes e vão merecendo comentários.

Ontem e hoje a imprensa noticia que em dez anos duplicou a percentagem da população que detém licenciatura. Do meu ponto de vista seria ajustado que a divulgação desta informação fosse acompanhada de alguma reflexão.

Quando se lê que o número de licenciados duplicou em Portugal, creio que tal informação vai ao encontro da ideia falsa que se instalou na sociedade portuguesa de que temos licenciados a mais e de que não adianta estudar pois espera-os o desemprego. Esta ideia, também alimentada pela forma como alguma imprensa lida com os dados conhecidos, é quase suicidária. O desenvolvimento das sociedades actuais exige a qualificação das pessoas, a alternativa é a exclusão.

Neste sentido, parece-me fundamental que tenhamos uma visão comparativa com os países do mesmo espaço, a União Europeia. Assim, os dados da OCDE relativos a 2009 dizem-nos que, considerando a população dos 25 aos 65 anos, temos o nível mais baixo, repito mais baixo, de qualificação superior, é menos de metade da média europeia. Se considerarmos o ensino secundário, os dados do Censo 2011 mostram que temos 13% da população com esta habilitação. Mais uma vez é relevante saber que em 2009 também tínhamos o mais baixo nível de qualificação com o ensino secundário da UE, bem abaixo de metade da média. Um último dado comparativo, em 2009 o abandono precoce em Portugal era mais do dobro da média da UE.

Este cenário mostra como é de saudar a duplicação de licenciados nos últimos dez anos mas também se percebe como estamos longe dos níveis de qualificação da população dos países com quem interagimos e competimos. Para além de tudo isto importa não esquecer que 25 % da população tem apenas o 1º ciclo.

Estamos no caminho mas com muita estrada por percorrer, era bom que nos lembrássemos disto antes dos discursos sobre o "país de doutores", tão falsos quanto perigosos.