AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 24 de dezembro de 2011

A MENSAGEM E O MENSAGEIRO

É aceite que em muitas circunstâncias o conteúdo da mensagem é, também, analisado em função do mensageiro.
Vem esta nota a propósito do recente alvoroço sobre as declarações de um Secretário de Estado e do Primeiro-ministro que sugeriram a emigração como forma de os portugueses fugirem ao desemprego em Portugal. Algumas vozes criticaram este tipo de declarações, entre as quais a minha, não porque a emigração não seja um possível projecto de vida mas porque, esta é a questão central, as lideranças de quem se espera a minimização ou resolução de problemas, não pode afirmar que a solução é abandonar. Algumas intervenções vindas em apoio das declarações esquecem o essencial, não é a referência à emigração que se questiona, é a função e a relevância de quem as enuncia.
Hoje, do meu ponto de vista, temos novo episódio de uma mensagem que não pode ser descodificada esquecendo o mensageiro. O Ministro da Saúde afirmou, "Gostava que no próximo ano de 2012 todos os portugueses tivessem um SNS com qualidade, (...) com a manutenção de possibilidade de acesso e, sobretudo, com universalidade e cobrindo todos os cidadãos de uma maneira geral, mas sobretudo os mais vulneráveis”.
Eu, e creio que a generalidade dos portugueses, expressamos o mesmo desejo, a mensagem é clara e, aliás, de acordo com o espírito da época. A questão, mais uma vez, é que é enunciada pelo Ministro da Saúde, alguém que nos tempos recentes tem vindo a tomar decisões e a gerir um plano fortíssimo de restrições económicas, que na opinião de muitos especialistas e considerando alguns estudos, por exemplo da DECO, têm implicado a dificuldade crescente no acesso aos serviços do SNS para muitos portugueses.
É simpático que o Ministro expresse desejos positivos para os portugueses, mas é dele que se espera a solução, ele é um actor principal, não é um espectador.

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