AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

NÃO SOMOS UM PAÍS DE DOUTORES

O Relatório do Conselho Nacional de Educação vem, mais uma vez, demonstrar a falsidade de uma ideia instalada na opinião pública e muitas vezes alimentada pela ignorância e irresponsabilidade de alguma imprensa, a ideia de que somos um "país de doutores", ou seja, temos um excesso de mão de obra qualificada e condenada ao desemprego. Este entendimento é obviamente falso e frequentemente aqui tenho procurado demonstrá-lo. Sabemos, é conhecido, que temos umas dezenas de milhares de jovens licenciados em situação de desemprego mas, de uma vez por todas, é fundamental que percebamos que, primeiro, eles não estão no desemprego por serem licenciados, estão no desemprego porque temos um mercado pouco desenvolvido e ainda insuficientemente exigente de mão de obra qualificada e estão no desemprego porque, por desresponsabilização da tutela, a oferta de formação do ensino superior é completamente enviesada distorcendo o equilíbrio entre a oferta e a procura como muitas vezes afirmo. Muitas empresas, sobretudo as de menor dimensão, provavelmente devido ao baixo nível de qualificação dos empresários (um dos mais baixos da UE), parecem também mais avessas à contratação de mão de obra qualificada.
Por outro lado, se atentarmos em dados da OCDE e do INE sabemos que um trabalhador licenciado ganha em média mais 80% que alguém com o ensino secundário. Um indivíduo com a escolaridade básica recebe em média menos 57% que alguém com o Ensino Secundário. Apenas 7.5% de pessoas com o 9º ano recebem duas vezes mais que a média nacional enquanto licenciados a receber duas vezes mais que a média são quase 60%. Os filhos de pais licenciados têm 3,2 vezes mais probabilidades de obter uma licenciatura. Segundo os dados disponibilizados pelo CNE, na população portuguesa dos 25 aos 65 anos, só cerca de 32 por cento atingiu pelo menos o nível secundário de formação, contra 73 por cento na União Europeia.
Se considerarmos a faixa etária dos 20 aos 24 anos, a diferença coloca Portugal a 20 pontos percentuais da média europeia (59 por cento para 79 por cento).
Entre os 25 e os 34 anos, 19% dos jovens tem uma licenciatura enquanto na OCDE a média é 32%. Em Portugal, o número de licenciados é metade da média da União Europeia. Na franja entre os 35 e 44 anos a percentagem ainda baixa para 13%. Um indivíduo com apenas o básico corre um risco de pobreza 20 vezes superior ao de um indivíduo com um curso superior.
Deste quadro releva a absoluta imprudência de passar a mensagem de que a formação é irrelevante, o desemprego é o destino. A qualificação profissional, de nível superior ou não, é essencial como também é essencial a racionalidade e regulação da oferta do ensino superior.
Deixemos definitivamente de lado a ideia de que somos um país de doutores, é um tiro no pé. Donde, como hoje alerta o CNE, desinvestir na qualificação é comprometer o futuro.

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