AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 19 de novembro de 2011

JÁ NÃO SÃO VONTADEIROS

Hoje ao fim da tarde, depois da lida, o Mestre Zé Marrafa apareceu aqui no Meu Alentejo para umas lérias e o acerto do trabalho de amanhã que, aliás, não tem muito que saber nesta altura do ano, trata-se de apanhar azeitona.
Às tantas veio à baila a dificuldade que se sente aqui para encontrar quem faça algum trabalho na agricultura.
Depois de discorrermos sobre salários, desemprego, subsídios que, por vezes, desincentivam o regresso ao trabalho, as motivações profissionais dos mais novos, o cansaço dos velhos, a migração da gente para as cidades grandes, etc., o Velho Marrafa deu a explicação final, disse ele, para terminarmos a conversa, “sabe Sr. Zé, um homem tem que ser vontadeiro e hoje pouca gente quer fazer alguma coisa, toda a gente se encosta e arranja qualquer desculpa para não fazer nada”.
Ainda tentei avançar com uma visão um pouco mais optimista, mas o Velho Marrafa, com a autoridade moral de quem começou a trabalhar aos nove anos e aos setenta e um ainda anda na lida seis dias por semana, de quem trabalhou anos de sol a sol, de quem nunca enricou a trabalhar, insistiu, “já não querem fazer nada pela vida, estão à espera que lhes dêem tudo, já não são vontadeiros”.
O Velho Marrafa é capaz de ter razão, não estou com vontade alguma para passar o dia a varejar oliveiras.
Para ajudar na vontade, começou a chover.

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