AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

GREVE GERAL? QUASE GERAL? UM BOCADO GERAL?

Um dos aspectos invariavelmente envolvidos na realização de acções de protesto é a contabilidade em torno dos níveis de adesão. As discrepâncias, de acordo com o posicionamento das fontes de informação, são extraordinárias. Lembram-se certamente de uma manifestação de trabalhadores da administração pública em 6 de Novembro de 2010, em que a organização estimou em 100 000 os participantes e um especialista americano que se encontrava em Lisboa avaliou a participação entre 8 000 e 10 000. Na altura lembro-me de ter escrito que não tendo estado presente e não tendo outras fontes de informação, só podia depreender que uma das fontes estaria "ligeiramente" enganada.
Ainda antes de começarem a surgir os primeiros números da adesão à greve geral de hoje, poderemos certamente antecipar que, como é habito, se instalará um consenso estranho, todos ganharam.
As estruturas representantes da administração e dos empregadores virão muito provavelmente afirmar que se registou um bom resultado pois a iniciativa não teve a adesão referida e ou esperada, não teve impacto significativo na vida das comunidades, que fica evidente a aceitação ou, pelo menos, a compreensão das políticas seguidas e a bondade dos seus pontos de vista, etc.
Por outro lado, as estruturas representativas dos trabalhadores informam-nos que a adesão correspondeu às expectativas, que os trabalhadores mostraram o seu descontentamento, que o movimento sindical obteve mais uma retumbante vitória, etc.
A questão é que esta discrepância, do meu ponto de vista, acaba por desvalorizar os efeitos da própria greve pois, como é sabido, muitos estudos têm vindo a demonstrá-lo, os níveis de cultura política, participação cívica, precariedade laboral, custos económicos do dia de greve, etc., levam a que uma percentagem muito significativa de pessoas embora estando de acordo com a razão dos protestos não adiram à realização da greve. Desta questão decorre o facto de se defender que uma manifestação poderia ser um instrumento mais potente de protesto por, provavelmente, ter mais capacidade de mobilização.
Há circunstâncias em que quando todos afirmam que ganham, todos estão a perder.
Para já estamos a perder o presente, as dificuldades que estão na origem do descontentamento das pessoas, das que aderem e de muitas que não aderem, são graves e sérias.
E o risco de perdermos o futuro é também uma ameaça, os tempos estão difíceis.

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