AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 18 de outubro de 2011

QUANDO INTEGRAR RIMA COM HUMILHAR

O Público de hoje retoma a questão das praxes académicas a propósito de alguns episódios ocorridos na Universidade do Minho. Algumas notas requentadas sobre esta matéria. Nesta altura do ano, tal como nos movimentos migratórios, as cidades com ensino superior são invadidas por uma população curiosa, os caloiros. Andam aos bandos pelas ruas, com um ar patético, mascarado de divertido, e enquadrados por uma rapaziada de negro, trajada, como gostam de dizer. É o tempo das praxes aos que chegam ao ensino superior.
Não sei se em resultado de alguns episódios lamentáveis, até com consequências graves do ponto de vista físico o que levou alguns estabelecimentos a "desencorajar" ou mesmo proibiras praxes, se em resultado das escolhas dos próprios estudantes ou em resultado dos esforços do MATA (Movimento Anti-Tradição Académica), parece que as “actividades” de praxe estarão mais brandas do que em anos anteriores. Fico satisfeito, sobretudo se corresponder a decisões assumidas pelos estudantes no seu conjunto e não fruto de ameaças ou determinações da tutela ou da direcção das diferentes escolas, estamos a falar de gente crescida e, espera-se, auto-determinada.
Devo confessar que no universo das praxes académicas pouca coisa me pode surpreender. De forma aparentemente tranquila coexistem genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com boçalidade, humilhação e violência sobre o outro, no caso o caloiro.
Apesar dos discursos dos seus defensores, continuo a não conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar rima com integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade, abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência rima com inteligência ou coacção rima com tradição.
Talvez este discurso seja de um desintegrado, isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno tipo que não acedeu ao privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar. Desculpem.

2 comentários:

  1. Está desculpado. Espero que aceite também as minhas desculpas mas tenho que lhe dizer duas coisas.

    - Não é por ver muitos documentários no Discovery Channel que se fica a perceber de engenharia aero-espacial. O mesmo é com a praxe, não se fique pelo que houve na televisão e pelos preconceitos....
    - Quem discrimina os caloiros não é a "rapaziada de preto" (afinal eles passaram pelo mesmo e compreendem aquilo) mas sim você e outros "tanseuntes" que lhes dão um ar "patético".

    É uma acção séria para combater exageros. Afinal, numa sociedade com tantos erros, eles acabam por acontecer em tudo.

    Não se esqueça também que as notícias (no mínimo caluniosas) que têm surgido de pais de uma geração com histórias bem bonitas em LLoret del Mar...

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  2. Olá Miguel,

    Não tem obviamente que pedir desculpa e agradeço o seu comentário, duas notas breves.
    Em primeiro lugar devo dizer-lhe que conheço a questão, sou professor do ensino superior universitário há muitos anos. Não é, portanto, com base na televisão que penso o que exprimi sobre as praxes.
    Segunda nota. Como reparou, não generalizei, disse "coexistem genuínas intenções de convivialidade, tradição e vida académica com boçalidade, humilhação e violência sobre o outro". Sei que não pode ser tudo colocado no mesmo saco, apenas me referi ao, digamos, lado negro desta situação que, concordará, existe.

    Passe sempre e discuta

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