CAVALHEIRO DE NÍVEL

O hábito da leitura diária de um jornal na versão papel leva-nos a ler praticamente tudo, mesmo que em alguns assuntos ou notícias às vezes o olhar só se detenha nos títulos, ou nas "gordas", como se costuma dizer.

Um dos títulos que regularmente vejo e que mais curiosidade me desperta é "Cavalheiro de nível" em que de, forma mais ou menos extensa e pormenorizada, dependendo certamente da bolsa e grau de precisão da, ou do, anunciante, se enuncia o desejo de conhecer um cavalheiro de nível, com intenções sérias e com posição estável. Por vezes, estabelecem-se critérios de altura, idade, nível económico, empregabilidade, etc.

Não consigo deixar de ficar a pensar. Em primeiro lugar, a própria fórmula é uma redundância, um cavalheiro, só pode ter nível, sem nível não se é um cavalheiro. É certo que às vezes, como o povo diz, há por aí uns cavalheiros que não são flor que se cheire, mas aí o termo é utilizado com ironia, um cavalheiro, é um cavalheiro e, portanto, tem nível, ponto.

Uma outra curiosidade remete para a ou o anunciante. Que levará a pessoa a procurar pelo jornal e a, imagino eu, a criar a expectativa de que encontra um "cavalheiro de nível" e com intenções sérias para além doutros predicados? Será um último recurso de quem desesperou pelo encontro que nunca aconteceu? Será uma atitude de jogo arriscado e cheia de adrenalina, qual roleta russa, em que tudo pode acontecer?

Provavelmente será alguém de um romanismo ingénuo em vias de extinção que sonha que a resposta ao anúncio revele a chegada de um príncipe encantado, um cavalheiro de nível, bonito, saudável, bem intencionado, simpático, com meios de fortuna, com a idade ajustada e que com um beijo apaixonado a desperta para um resto de vida apaixonado e feliz.

Oxalá os cavalheiros de nível respondam aos anúncios.