AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR E OS EXAMES DO SECUNDÁRIO. O grande equívoco

Como era previsível este ano voltou a verificar-se a situação de alunos que vindos do ensino recorrente que terminam o ensino secundário atingem excelentes colocações nos processos de candidatura ao ensino superior. Os alunos do ensino recorrente têm a possibilidade legal de frequentar e terminar o secundário em circunstâncias diferentes da via geral. São assim frequentes notas de 20 valores que, é conhecido, algumas escolas privadas administram de forma “simpática”, por assim dizer e numa linguagem leve. Este cenário, permite, por exemplo, a entrada em medicina a alunos que, obviamente, não têm o mesmo nível académico dos que seguem a via geral e atingem notas de excelência e os ultrapassam.
A questão que incomoda os directores escolares, quer do secundário, quer do ensino superior, é legal mas obviamente discutível.
No entanto, só acontece porque, digo-o há muito, a conclusão e certificação de conclusão do ensino secundário e a candidatura ao ensino superior deveriam ser processos separados.
Os exames nacionais destinam-se, conjugados com a avaliação realizada nas escolas, a avaliar e certificar o trabalho escolar produzido pelos alunos do ensino secundário e que, obviamente, está sediado no ensino secundário. Neste cenário caberiam as outras modalidades que permitem a equivalência ao ensino secundário, como o ensino recorrente.
O acesso ao ensino superior é um outro processo que deveria ser da responsabilidade do ensino superior e estar sob a sua tutela.
A situação existente, não permite qualquer intervenção consistente do ensino superior na admissão dos seus alunos, a não ser a pouco frequente definição de requisitos em alguns cursos, o que até torna estranha a passividade aparente por parte das universidades sempre tão ciosas da sua autonomia. Parece-me claro que o ensino superior fazendo o discurso da necessidade de intervir na selecção de quem o frequenta não está interessado na dimensão logística e processual envolvida.
Os resultados escolares do ensino secundário deveriam constituir apenas um factor de ponderação a contemplar nos processos de admissão organizados pelas universidades como, aliás, acontece em muitos países.
Sediar no ensino superior o processo de admissão minimizaria muitos dos problemas conhecidos decorrentes do facto da média do ensino secundário ser o único critério utilizado para ordenar os alunos no acesso e eliminaria o “peso” das notas 20 concedidas no ensino recorrente. Todos nós conhecemos os clássicos exemplos de alunos que se dirigem a medicina porque as suas altíssimas notas assim o sugerem, acabando por reconhecer não ser esse o seu caminho e, por outro, um potencial excelente médico que deixará de o ser porque por três vezes ficou a décimas da média de entrada.
Enquanto não se verificar a separação da conclusão do secundário da entrada no superior todos os anos teremos situações desta natureza.

6 comentários:

  1. Se isto continuar assim, vou abri um Colégio Particular. O nome será "Da Vinci" :))

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  2. Tens razão, Zé.

    Tu és do Sul, aqui pelo Porto*, há colégios que colocam 100 alunos por ano em Medicina. Nem necessitam de ir para o recorrente. Basta as notas internas serem generosas (que é o que ocorre), mesmo com uma ligeira queda nos exames, conseguem candidatar-se com mais de 19 valores ao Superior.

    No recorrente não chega a existir queda, visto os exames não serem considerados para a média interna.

    * Ver aqui:

    http://www.ribadouro.com/docs/est_candidatos.pdf

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  3. Ao contrário do que dizes os exames do 12º foram feitos para 2 objectivos: concluir o secundário de forma "light" e candidatura ao ensino superior.(Por isso é que as provas de exames eram corrigidas e pagas aos professores - serviam de filtro de acesso ao superior, que rea trabalho que os do dito não queriam fazer).
    E foi isso ou já se esqueceram de uma greve dos do superior à correcção das provas? Creio até ter sido encabeçada pelo J. Pedreira.
    O superior, portanto não estará interessado em ser eke a fazer a selecção...

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  4. Como afirmei e concordas, o superior faz um discurso duplo, por um lado afirma que quer escolher os seus alunos mas, na prática, não reclama para si o processo de "selecção". Assim, o que deveria ser apenas a avaliação e certificação do secundário acaba por constituir o critério de acesso ao superio, processos que deveriam ser separados, é o meu ponto.

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