Numa iniciativa destinada ao corpo docente do colégio Planalto, exclusivo para rapazes, realizando também uma Conferência na Universidade Católica, esteve em Portugal David Chadwell, apresentado como especialista em ensino diferenciado. Veio explicar como se devem ensinar os rapazes que, por serem rapazes, devem frequentar escolas, claro, só para rapazes. Começa logo aqui um enorme equívoco. Ensino diferenciado significa a mobilização de metodologias de trabalho educativo que procurem responder à diversidade dos alunos na sala de aula, ou seja, sendo as salas de aula constituídas por grupos heterogéneos em diferentes critérios, torna-se necessário encontrar respostas diferenciadas para as diferentes características mantendo as crianças juntas. Não existem grupos homogéneos, nem constituídos por gémeos. O senhor Dr. Chadwell será especialista em ensino discriminado, o que representa exactamente o contrário de diferenciação educativa. Não é novo, sob a responsabilidade dos Colégios Fomento (integra o Planalto) e em pareceria com a Opus Dei já esteve em Lisboa o Professor Cornelius Riordan, sociólogo, que proferiu também uma conferência sobre as vantagens das escolas só para rapazes ou só para raparigas. Na altura escrevi aqui algumas notas que hoje retomo.
Como afirmação prévia, importa esclarecer que não discuto a legitimidade que informa a decisão de pais e encarregados de educação sobre as escolas que desejam para os seus filhos. Sendo certo que a liberdade de escolha é condicionada por múltiplos factores, também é certo que essa escolha pode assentar em critérios como público ou privado, dimensão, estatuto social predominante, laica ou religiosa, com farda obrigatória ou não, com formação de natureza militar ou não, com co-educação ou com separação de géneros, estabelecimentos em moda, etc. Num esforço de alargamento de opções poderá colocar-se até a possibilidade de se desejarem escolas para alunos com excesso de peso que terão, naturalmente, um plano curricular reforçado no âmbito da actividade física e cuidados redobrados na alimentação ou escolas para qualquer forma de minoria para que, ideia peregrina, fiquem mais protegidas dos excessos das maiorias, etc. Estas escolhas assentarão, necessariamente, no conjunto de valores, cultura, representações, expectativas, etc. dos pais. Trata-se de uma opção que lhes assiste.
A questão mais substantiva e que justifica o comentário é a afirmação de que escolas separadas por género são melhores e alguma da sustentação aduzida. Tal como Riordan, também Chadwell na entrevista ao Público não apresenta nenhuma evidência consistente sobre a superioridade do ensino discriminado por géneros assente nas diferenças entre rapazes e raparigas. A defesa do modelo é um enunciado de convicções e de referências pedagógicas sem qualquer solidez no que respeita ao que ele entende ser as necessidades escolares diferentes dos rapazes. É pouco, muito pouco. Curiosamente, o Professor Riordan afirmou na altura que mais de metade dos estudos não são conclusivos sobre os efeitos positivos, mas crê nas vantagens das escolas separadas. Porque sim.
Uma outra questão interessante e não abordada de forma conclusiva por Chadwell, remete para os limites da educação separada. Será desejável até ao fim do secundário ou será melhor prolongar também durante o ensino superior e, entretanto, começar o processo de separação do mercado de trabalho também por géneros uma vez que em adultos também homens e mulheres têm características diferentes?
Termino como comecei, entendo como totalmente legítima e existência de valores de que sustentem a opção pela educação separada mas, por uma questão de honestidade intelectual, não os mascarem de ciência.
Olá Zé Morgado.
ResponderEliminarTendo a concordar com sua visão.
Também publiquei uma postagem em meu blog sobre a "educação diferenciada". Faço uma leitura crítica e não exaustiva, a partir de duas reportagens. É algo relativamente novo no Brasil, com implicações ainda nebulosas.
Pode ser lida neste link:
http://labirintosdoser.blogspot.com/2011/09/observacoes-sobre-educacao.html
Atenciosamente, Marcelo