O DN de hoje noticia uma acção inspectiva que concluiu que em quatro meses foram produzidos 70031 atestados médicos a professores, sendo que durante esse período a mesma médica, curiosamente em situação de licença prolongada, assinou 413 atestados. A Inspecção-Geral de Saúde, o MEC, o Ministério Público e a Ordem dos Médicos procedem a inquéritos.
Apesar de muitos estudos sustentarem a vulnerabilidade da classe docente a situações de stress e mal-estar que não é difícil de entender, os números são muito altos.
Estarão lembrados de que há pouco tempo um só médico concedeu 24 baixas no mesmo dia a elementos da PSP pertencentes à mesma esquadra, a das Mercês. Na altura também se afirmou que a situação iria ser investigada pela tutela e pela Ordem dos Médicos.
Não vou obviamente discutir, não sei nem temos informações, a avaliação do ponto de vista da situação clínica, a questão prende-se com o "esquema", sempre o esquema.
É difícil acreditar na bondade da avaliação clínica de médicos que em pouco tempo atestam centenas de caso de incapacidade mas, por outro lado, também não me parece fácil provar que essa avaliação configure um mau acto médico.
O facto de diferentes organismos e a Ordem dos Médicos analisarem estas circunstâncias, parece-me algo de irrelevante e que estará certamente condenado ao arquivamento.
É o tipo de situações em que todos reconhecemos que existe algo que não está bem mas que fica por assim mesmo num país como o nosso.
Ainda há pouco tempo, se noticiava a existências de milhares de casos de baixa médica que não resistiram a uma acção de fiscalização. Trata-se da cultura instalada e da relação ética com o trabalho, trata-se do "porreirismo" e da baixa consciência deontológica, para ser simpático, dos clínicos que de forma leviana assinam baixas médicas por "falta de condições psicológicas" e, finalmente, da impunidade e bonomia laxista com que tudo isto é encarado. Em muitos locais se conhecem uns clínicos a quem recorrer para arranjar um "atestadinho".
Um dia, boa parte de nós alegará "falta de condições psicológicas" para aqui viver, no Portugal dos Pequeninos.
Boa tarde
ResponderEliminarAcho que "falta de condições psicológicas" já todos nós temos; só que existem alguns que sabem aproveitar-se melhor das situações do que outros. Ou não estivéssemos no "Portugal(não dos pequininos) mas pequenino"...
A falta de integridade profissional na sociedade portuguesa é transversal.
ResponderEliminarTanto atinge o inteligente como o estúpido. Mas considero-a mais perigosa naqueles intelectualmente melhor preparados. Atente-se na notícia que neste blog é exposta.
Comentando o seu último parágrafo e recorrendo a uma velhíssima anedota digo:
Em Portugal ficarão apenas os pernetas a quem lhes foi roubada as muletas.
saudações