AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 27 de agosto de 2011

OS BRANDOS COSTUMES

O Presidente da República, desta vez sem recorrer ao Facebook, alerta para o perigo decorrente do excesso de sacrifícios exigidos ao “cidadão comum”. Não entendo bem este aviso pois é sabido que estão anunciados e previstos novos pacotes da chamada austeridade que, para não variar, complicam ainda mais as condiçoes de vida de milhões de portugueses.
A preocupação do Presidente fez-me lembrar que há algum tempo, uma entidade basicamente desconhecida para a esmagadora maioria de nós, a Aon Risk Solutions, nos colocava no lote dos países com algum risco de violência pública em consequência da crise e da austeridade. Esta entidade terá a mesma isenção que as famosas agências de rating pois é parte interessada na avaliação, ou seja, quanto maior for o risco, maiores serão os encargos com seguros e, portanto, a favor dos interesses das seguradoras que financiam a Aon Risk Solutions. Ao que parece, a avaliação de risco assentou nos exemplos de outros países, designadamente da Grécia.
Se conhecessem o nosso país, as nossas particularidades, veriam como o risco de violência pública é baixo como, aliás, veio afirmar o responsável pelo Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo.
De facto, somos reconhecidamente um país de brandos costumes, somos um povo discreto. Não abusamos da violência e quando o fazemos é no recato do lar ou, quando muito, no quintal.
A nossa violência, é uma violência de proximidade, violência doméstica em números muito elevados, umas tareias nos miúdos a ver se eles aprendem, uma sacholada ou tiro num vizinho por causa de uma partilha ou de uma pinga de água, pouco mais do que isso. Por vezes, lá trocamos uns sopapos ou coisa pior por causa de um desaguisado de trânsito, mas nada que possa configurar violência pública ou convulsão social graves.
Somos mesmo um povo tranquilo e de brandos costumes, algo que os estrangeiros, quase sempre, referem como característica nossa.
A questão é que, como dizia Camões, todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Um dia cansamo-nos de ser bons rapazes.

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