Foi hoje apresentado o anunciado Plano de Emergência Social destinado a atenuar as consequências da situação económica que atravessamos.
Não me vou deter na análise discriminada das medidas apresentadas embora me pareçam umas mais interessantes que outras. Dada a polémica que já levantou parece-me positivo combater o desperdício de medicamentos promovendo a sua utilização desde que salvaguardadas, obviamente, as questões de segurança e saúde pública. Dada a inexistência da unidose, Portugal tem uma das mais elevadas taxas de consumo de medicamentos, boa parte dos quais acaba certamente no lixo, por não utilização atempada.
A minha nota é de natureza mais global. A crise que vivemos decorre de décadas de modelos de desenvolvimento assentes no endeusamento dos mercados deixados à solta numa actuação selvagem subordinada exclusivamente ao lucro. Por outro lado, paralelamente, estes modelos enredaram-se, como não podia deixar de ser numa ausência de padrões éticos e de preocupação com a generalidade das pessoas que promoveram, só podia ser assim, milhões de excluídos e pobres em todas as latitudes embora menos nos chamados países emergentes, por enquanto digo eu. Em Portugal estes modelos foram subscritos por todos, sublinho todos, os partidos que passaram pelo poder.
Deste quadro resulta que um quinto da população portuguesa está em risco de pobreza, não andaremos longe dos 800 000 desempregados e são cada vez mais conhecidas situações de fome e carências graves como as instituições a operar na área social bem sabem e sentem.
Nesta conjuntura, qualquer iniciativa que possa minimizar a situação pode ser positiva. Sabemos também que a agenda política continua viva e determinante pelo que, os interesses partidários determinam comportamentos e discursos face a tudo o que possa ser decidido. Não vamos estranhar.
É claro que as medidas agora anunciadas, podem ser discutíveis, podem conter alguma hipocrisia, que custam 400 milhões e o BPN custará 5 000 e que, obviamente, não resolvem as questões estruturais, sabemos isso tudo.
No entanto, enquanto as lideranças, as várias lideranças, discutem estas matérias à luz da sua agenda, é bom não esquecer, repito, que há gente a passar fome, a ficar sem casa e, no fim, com a dignidade roubada, o seu bem mais precioso.
Acho que este plano de emergência social é um desperdício de energia para o Pais, porque em vez de estar a distribuir medicamentos que estão "quase" a passar de prazo aos "velhinhos" pobrezinhos, estes (velhinhos) deveriam ser exterminados e não se pensava mais nisso. Até porque eles já não são produtivos, também ocupam muito espaço, e não servem para nada. Além de tudo o mais os comilões das misericórdias e alguns deles também são velhos, mas não pobrezinhos deixariam de ter como justificar o porquê da sua existência.
ResponderEliminarAntevendo o número (obsceno, por certo) de Planos de Emergência que se devem seguir a este, a sensação com que fico, lendo estas frustes e tímidas medidas, anunciadas hoje para esbarrarem amanhã na ineficiência do costume, é a de que pouquíssimo ou nada se fez. Não consigo por isso deixar de olhar para o tratamento que o nosso país dá aos mais carenciados - sejam eles desempregados ou idosos, doentes ou com fome - abstraindo-me dos seus rostos (iluminados de tristeza) expressando uma espécie de apelo urgente: o carrasco do tempo que se despache… Vá lá!
ResponderEliminarÉ triste. É mesmo muito triste. E pior que isso, dada a atual conjuntura, um plano de emergência que faça apenas isto não é digno de tão pomposo rótulo. Face ao estado de saúde do ‘doente’ aplicar-lhe apenas tal ‘tratamento’ pouco mais é do que adiar-lhe o fim. Se é para isso, se o objetivo é ganhar tempo, podemos ira já ir autopsiando alguns. Começamos pelos que já se mexem pouco. (Não, não é ironia cruel. É amargura mesmo.) Assim não.
Os comentários antecedentes ao meu são de uma crueldade impiedosa.
ResponderEliminarEu vislumbro perfeitamente a ironia, a realidade do texto e concordo com quase tudo o que está escrito.No entanto nos tempos actuais existe muitos idosos com acesso à net mas desprovidos de sentido de humor e de ironia.
"deveriam ser exterminados" ou "ir já autopsiando alguns que já se mexem pouco" são frases que não gostarão muito de ler e não os ajudarão muito (nada) a esquecerem que estão no términos da vida.
Neste campo a incompetência governativa poderia ser abordada de uma outra forma.
FIQUEI CHOCADO!!!
Mas isso sou eu que já sou um idoso...
saudações
Sabe, querido anónimo (perdão por o tratar assim, mas como não sei o seu nome...), eu também já sou idosa nos tempos que correm, por isso estou a falar do que sinto todos os dias quando oiço estes despautérios, porque ainda sou do tempo “da outra senhora” em que existiam os pobrezinhos, e os velhinhos que eram protegidos e os que o não eram.
ResponderEliminarOs protegidos tinham que ir à igreja, fazer favores aos senhores, e portarem-se bem como por exemplo não beber, trabalhar muito, receber pouco e agradecer o que Deus e ao Estado o que lhes oferecia.
Portanto o que está a acontecer de algum tempo para cá, e politicamente falando pode não ser muito elegante, é a tentativa de matar-nos mais depressa, com dor e sem dignidade, e de preferência que não gozemos a nossa reforma.
Em nome de quê? Da crise? Da Economia? Das Finanças? Não, nenhuma delas, mas sim em nome de uma IDEOLOGIA!
E o caro anónimo, sabe como? Claro que sabe, 1ª através dos papagaios dos meios de comunicação, 2º através das senhoras das IPSS que vêm para a televisão dizer que apesar de "oferecer" trabalho, as pessoas não aceitam, porquê? Porque são calaceiras, e só querem receber os subsídios. Ninguém pergunta se essa pessoa não aceita porque se deduzir os transportes que paga do seu bolso, o infantário que tem de pagar para deixar os seus filhos, do salário que lhe vão pagar, fica em saldo negativo.
Para terminar, FICO CHOCADA TODOS OS DIAS, com esta ignomínia diária, em que todos dias saem novas ideias de como nos retirar a CONDIÇÃO HUMANA.
Se não acordarmos depressa, pode querer que estaremos mortos muito mais depressa.
Ó deuses! Clemência. Já que da razão humana, pelos vistos, pouco há a esperar.
ResponderEliminarCaro e corajoso anónimo, acabo de ler o seu anónimo e corajoso comentário. Li-o e logo fiz o meu mais conseguido ar de espanto, tenho de confessar. Comecei até por achar que o fez (terá sido?) para aumentar o share aqui do blog do Zé. Diga lá, foi não foi? Com efeito a visão que subjaz é um bocado essa, convenhamos. Porém, numa segunda leitura tal hipótese já me pareceu alvar e pacóvia e, à míngua de melhores razões, parti para outras. Passei então a achar que a ênfase posta na sua apreciação era, antes de mais, sintomática da sociedade hipócrita em que vivemos. Esta hipótese dei-a como provada. Depois, sabendo (como sei) que o espaço virtual tem rituais de comportamento próprios, dos quais a manipulação de opiniões e impressões é uma das mais correntes, fiquei-me por achar que aquilo é a sua forma de chamar a atenção dos outros. Treslê o que devia ter lido, amplia-o, deturpa-o, comenta-o num discurso marcado pela mal disfarçada má-fé e por algum desconforto, e finalmente publica-o. Dá-lhe destaque, com a sobranceria de quem se julga um observador esclarecido, colectivo e habilitado (peso bem as palavras). Chamemos-lhe uma espécie de ADD (Attention Deficit Disorder), para simplificar a coisa e ao arrepio de outras evidências mais concludentes. Que me diz? Eu achei que sim. Mas, prossigamos. Olhe, pronto, aqui chegado não consigo resistir à tentação da pergunta: diga-me lá, apercebeu-se do que disse? Da conclusão a que remete o juízo simplista que fez e, nos termos em que o formula, do paupérrimo exercício de subjectividade que lhe saiu dos dedos? Apercebeu-se? Isto, claro está, no ingénuo pressuposto de que algum idoso possa (não sei por que tortuosas sinapses, mas tudo bem), alcançar o brilhantismo do seu raciocínio. Mas isso já é outra história. A sua é a de quem enquadra exclusivamente nos idosos aquilo que ali escrevi, e pior que isso, o projecta num comentário assim feito, nesse medíocre terreno do anonimato e da afronta. Enfim, posto que a sua corajosa conduta está muito para lá das minhas capacidades e a modos de conclusão, deixo-lhe duas sugestões: não continue a viver assim, protegido pelo lamaçal do anonimato. Atreva-se a enfrentar as consequências do que escreve, assinando por baixo. E, por último, quando discordar do que julgue ser contrário à sua forma de pensar não assuma que isso lhe dá o direito a manipular ou objectivar alarvemente os outros. Nem mesmo ignorando a ironia das frases.
Agora (para os que tiveram a pachorra de aqui chegar), com as devidas desculpas pela improdutiva perda de tempo a que vos arrastei, e à guisa de despedida, desejo-vos a serena paz de um excelente fim de noite.
Animada discussão. Do meu ponto de vista, o Anónimo (normalmente não ligo a "anónimos") manifestamente não percebeu o que leu, não é grave.
ResponderEliminarGostei e agradeço os vossos comentários, gente viva é sempre algo de animador para um atento inquieto.
UM EM TRÊS
ResponderEliminarPercebi perfeitamente o que li.
Insurgi-me apenas pela terminologia utilizada nas duas frases nucleares. Será que não haveria forma mais soft para emoldurar a ideia-crítica?!
No restante dos textos fiquei plenamente de acordo.
Mil perdões à "anabela" e dois mil ao não anónimo "jota PÊ" que todos sabemos ??? muito bem quem é. Dobrei os perdões porque pareceu-me o mais susceptível. NÃO ERA MINHA INTENÇÃO INFLAMAR REAÇÕES!
Gosto muito do seu blog pois é um óptimo fórum de ideias.
saudações
Companheiro, a discusão é boa, mesmo quando se discorda.
ResponderEliminarAinda numa nota de que me esqueci dirigida ao Anónimo Paz. Quando me refiro a "anónimo" é, sobretudo, uma questão estética e de princípio. Como é óbvio, um nome na net não garante a identificação de ninguém mas, insisto, um qualquer "nick" é-me mais simpático que a assinatura como "anónimo". É só isso, apareça sempre.
ResponderEliminar