AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O (DES)EMPENHO DOS PROFESSORES

Das declarações de Nuno Crato que a imprensa de hoje veicula, para além da referência a que o modelo de avaliação de docentes está em aberto e, portanto sujeito a alterações, relevam afirmações como "mais que computadores ou quadros interactivos, o que mais falta faz nas escolas é empenho”, “haver mais disciplina e respeito pelos professores”, tanto da parte dos alunos como dos educadores.
Neste contexto, aparece-me importante reafirmar a centralidade a acção do professor, o seu empenho, bem como dos outros actores e importância da relação de "respeito" da comunidade para com os professores.
Socorrendo-me algumas notas de textos anteriores e começo por citar, o que faço com frequência, uma afirmação de 2000 do Council for Exceptional Children, "o factor individual mais contributivo para a qualidade da educação é a existência de um professor qualificado e empenhado".
Neste quadro, parece-me sempre importante sublinhar algo que de tão óbvio por vezes se esquece, a importância essencial e a responsabilidade que o trabalho dos professores assume na construção do futuro. Tudo passa pela escola e pela educação. Assim sendo, as mudanças na educação só podem ocorrer e ser bem sucedidas com o envolvimento dos professores.
No entanto, alguns dos discursos que de forma ligeira e muitas vezes ignorante ocupam tempo de antena na imprensa parecem esquecer a importância deste trabalho e das circunstâncias em que se desenvolve.
É difícil ser professor em algumas escolas que décadas de incompetência na gestão urbanística e consequente guetização social produziram.
A alteração de valores, padrões e estilos e vida das famílias fizeram derivar para a escola, para os professores, parte do papel que compete à família e nem sempre existem meios ou competência para estas novas solicitações.
Milhares de professores cumprem a sua carreira de poiso, em poiso, sem poiso e sem condições. E não nos esqueçamos também da imprescindível necessidade de que o seu trabalho seja avaliado através de dispositivos sólidos, eficazes e justos de forma a proteger a própria classe, os miúdos e as famílias.
A deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas décadas, tem criado instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo, um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Do meu ponto de vista alguns dos discursos dos representantes dos professores são parte deste problema.
Os professores são injustiçados na apreciações de muita gente que no minuto a seguir à afirmação de uma qualquer ignorante barbaridade, vai, numa espécie de exercício sadomasoquista, entregar os filhos nas mãos daqueles que destrata, depreendendo-se assim que, ou quer mal aos filhos ou desconhece os professores e os seus problemas.
É imprescindível que a educação e os problemas dos professores não sejam objecto de luta política baixa e desrespeitadora dos interesses dos miúdos, mesmo por parte dos que se assumem como seus representantes.
Os miúdos, pequenos e maiores, vêem e relacionam-se com os professores de uma forma muito influenciada pela visão e discurso dos adultos.
Sim, o empenho dos professores é determinante, mas, na esmagadora maioria dos casos não será o maior problema.

3 comentários:

  1. "reafirmar a centralidade a acção do professor, o seu empenho, bem como dos outros actores e importância da relação de "respeito" da comunidade para com os professores.
    "as mudanças na educação só podem ocorrer e ser bem sucedidas com o envolvimento dos professores".
    Está tudo aqui! Ando nestas andanças há 32 anos e subscrevo inteiramente o que escreveu.

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  2. Em tempos, solicitei-lhe autorização para distribuir alguns dos seus textos pelos pais dos meus alunos.Continuo a fazê-lo com alguma frequência.
    E porque há professores que fazem a diferença, cheguei a si por duas ex-alunas suas: a minha filha mais nova e a psicóloga da minha escola.
    Aproveito para lhe desejar um feliz aniversário.

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