O recente episódio trágico da morte de um adolescente atropelado em Proença-a-Nova, ao que parece no âmbito de perigosas "brincadeiras" na estrada, e que são filmadas para, claro, ganhar estatuto mediático através do YouToube, sugere algumas notas.
Sabemos dos manuais e da experiência de vida que a adolescência e juventude são um tempo de desafio, de testagem de limites, valores, regras, etc. que, quando tudo corre bem, contribuem para a construção estável de uma identidade, sem incidentes de maior para além da histórias com que se fica para contar aos filhos e que quase sempre começam por algo como, "Quando tinha a tua idade ...".
Este processo pode envolver, desde um visual mais alternativo (que motiva o estabelecimento de dressing code em escolas e faculdades), gostos musicais fora do mainstream, até comportamentos bem mais radicais como o "street racing" ou as "touradas" com carros, experiência que alegadamente terá vitimado o rapaz de Proença-a-Nova.
É evidente que discursos moralistas sobre estas matérias, sendo fáceis, são ineficazes e sem interesse. A questão é a facilidade com que nós, de uma forma ou de outra, vamos vendo, sem grandes sobressaltos, a vida transformar-se num gigantesco videojogo que não envolve só os mais novos e de que se conhecem muitos exemplos, acho notável estar horas a cuidar de uma quinta virtual.
A comunicação social, os jogos à disposição dos miúdos, a busca de algo "estimulante", a "adrenalina", a "pica", etc., é algo que faz parte da nossa vida. É razoavelmente fácil e muitas vezes tentador, por razões de desafio e no âmbito do grupo, ceder à transposição do videojogo para a vida real, quase sempre com resultados negativos. A propósito, segundo alguma imprensa, o louco responsável pelo massacre de Oslo referiu no seu manifesto a utilização do Call of Duty: Modern Warfare 2 como "treino" para a tarefa a que se propunha.
Um dias destes vamos ter que respirar um pouco mais fundo, desacelerar e tentar perceber os contornos e implicações deste processo quase inconsciente de viver num permanente videojogo.
Não sou particularmente contra os videojogos. Não sei, porque não sou consumidor. se os mesmos trazem indicação expressa para que idade são indicados. Se assim for e os pais sejam responsáveis e rigorosos no aconselhamento ou mesmo na proibição da utilização dos jogos que não sejam indicados para idade dos seus filhos, apenas me resta citar o poeta italiano do século XIV, DANTE ALIGHIERI:
ResponderEliminar"UMA VEZ TERMINADO O JOGO, O REI E O PEÃO VOLTAM PARA A MESMA CAIXA".
saudações