AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 13 de junho de 2011

SERÃO MESMO NECESSÁRIOS MAIS EXAMES? (Take 2)

O Público de hoje apresenta um trabalho muito interessante sobre a quantidade de exames promovidos no nosso sistema educativo procurando aferir das vantagens e desvantagens da sua realização. Este trabalho surge na sequência da realização das provas intermédias, algum tempo depois das provas aferidas e pouco tempo antes dos exames nacionais.
Esta discussão é recorrente e irá estar na agenda pois, por exemplo o CDS-PP que irá integrar o próximo governo, defende a introdução de exames nacionais em todos os ciclos.
As provas intermédias promovidas pelo ME, a que muitas escolas aderem, tal como noutra escala as provas aferidas, cumprem o objectivo de procurar indicadores sobre a eficácia do sistema, o que me parece importante no sentido de promover qualidade, exigência e rigor no sistema educativo esperando-se que as provas sejam adequadas, bem feitas e fiáveis em termos de resultados.
Os alunos prestam estas provas e, se funcionar como se espera, os resultados servirão de regulador ao trabalho desenvolvido pelas escolas. Conhece-se a tentação de se facilitarem os dispositivos de avaliação para inflacionar resultados. Este risco está também presente, é óbvio, em exames nacionais como, aliás, está patente nas discussões aquando da sua realização. À problemática mais particular dos exames nacionais e o seu papel no aceso ao superior voltaremos mais adiante.
Uma das questões importante e abordada na peça é o risco de o trabalho escolar se organizar centrado na preparação dos alunos para a multiplicidade de exames que realizam, ou seja, como me dizia há tempos um professor do ensino secundário, "o trabalho com os alunos é muito interessante mas a partir de certa altura sou eu e eles contra os exames".
Neste quadro, não vejo vantagens, independentemente dos custos em tempo, meios e procedimentos, na introdução de mais exames como forma de melhorar a qualidade. Esta ideia parece decorrer da estranha convicção de que se medir muitas vezes a febre, esta irá baixar o que é, no mínimo, ingénuo.
A qualidade promove-se, é certo, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc. O problema é que de há muitos anos a educação anda à deriva das agendas políticas.
A defesa de mais exames, como muitas vezes é feita, este é mais um exemplo, corre o risco de sustentar um discurso demagógico, as referências a exigência e a rigor vendem bem, que deixa de lado os aspectos mais essenciais.

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