AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 14 de maio de 2011

VIOLOU? SIM, MAS NÃO BATEU. Está absolvido

Sem paciência para conseguir acompanhar os discursos políticos produzidos por estes dias, em que toda a gente parece empenhar-se no abaixamento do nível e da seriedade ética e política, encontrei uma notícia que, para não variar, nos fala de crise.
No Porto, um médico psiquiatra foi acusado por uma paciente sua, grávida e com um quadro de depressão, de abuso sexual. Em tribunal de primeira instância os comportamentos são dados como provados e o cidadão condenado.
Como é habitual em Portugal, segue-se o recurso e o tribunal da relação pronunciou-se agora pela absolvição do cidadão porque os actos, que continuaram dados como provados não são susceptíveis de se considerar violentos.
Lê-se e não se acredita. É certo que não terão existido agressões físicas muito sérias, a senhora não terá levado uns murros e, muito menos, facadas e tiros. Na verdade, a senhora em situação psicológica vulnerável, estava em acompanhamento clínico devido a depressão, foi só empurrada e pressionada com alguma assertividade, por assim dizer, a práticas que não queria e que certamente não fazem parte da abordagem terapêutica, o chamado acto médico.
Os doutos juízes da relação não vislumbram sinal de ilícito e decidem-se pela absolvição. A sua sagacidade e lucidez não lhes permitirão perceber que este é um excelente exemplo da forma como o funcionamento da justiça contribui para a imagem miserável que o cidadão tem de um sistema de justiça em que não confia. Estes juízes, do alto da sua impunidade irresponsável, desconhecem o que são princípios éticos e valores que não podem ser hipotecados e branqueados por actos administrativos arbitrários e terroristas ainda que mascarados por uma linguagem indecifrável.
Em quem pode o cidadão confiar se o médico viola mas não bateu e o juiz o absolve porque só violou, não bateu?

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