Foi anunciada a detenção de dois dos jovens envolvidos no mais recente e conhecido episódio trágico de violência.
Esta detenção fornece um importante sinal de combate à ideia instalada de impunidade que tem efeitos devastadores na percepção de confiança e segurança da maioria de nós.
No entanto, sem querer de forma alguma branquear ou desculpar, longe disso, os comportamentos em causa, parece-me importante que se reflicta para além da óbvia e “fácil” decisão de prender.
A prisão, de que Portugal tem níveis altíssimos, apesar dos constantes e públicos apelos ao aumento de penas e de mais gente não pode ser a única solução sobretudo quando envolve gente mais nova.
É frequente reclamar o abaixamento da idade susceptível de prisão que actualmente se situa, creio, dos 14 aos 16 anos internamento fechado em Centro Educativo, e a prisão comum a partir dos 16.
Segundo dados da Direcção Geral de Reinserção, cerca de 40% dos adolescentes internados voltam aos Centros Educativos ou às prisões após os 16 anos. Esta altíssima taxa de reincidência, mostra a falência do Projecto Educativo obrigatoriamente definido para todos os adolescentes internados. Este Projecto Educativo assenta em dois eixos fundamentais, formação pessoal e formação escolar e profissional. É neste âmbito que o trabalho tem que ser optimizado. É imprescindível que os meios humanos e os recursos materiais sejam suficientes para que se minimize até ao possível os riscos de reincidência. Ao que é conhecido, um dos jovens agora detidos já tem antecedentes criminais.
Fica certamente mais caro lidar com a delinquência em adultos do que investir na qualidade dos Centros Educativos para que sejam, de facto, educativos.
Apesar de, repito, a detenção constituir um importante sinal de combate à sensação de impunidade instalada, é minha forte convicção de que só prender não basta.
Concordo em absoluto com a ideia que prender não resolve por si a situação mas também é verdade que se não for feito nada passa uma noção de impunidade que contagia a Sociedade e de algum modo incentiva ao crime quem tem tendência para o cometer...O Estado foi reduzido ao essencial, as suas estruturas foram sendo construídas por uns e ao mesmo tempo premeditadamente desvirtuadas de sentido por muitos outros...Ficaram as intenções e o esforço de meia dúzia de verdadeiramente interessados, e a passividade e o oportunismo da imensa maioria...
ResponderEliminarOs comportamentos em cada tempo, traduzem esse tempo
ResponderEliminarRealmente, é verdade. Antes dos jovens terem esta atitude perante os outros e perante a vida seria necessário haver uma preocupação com a educação, preocupação com o meio social onde vivem, preocupação com as normas escolares bem cumpridas com tolerância zero. É claro que este Portugal é pequenino, cada qual tenta encher-se ao máximo: políticos inclusive. O estado não contrata profissionais que possam fazer intervenções preventivas. A prevenção passa por profissionais em áreas como a psicologia, a acção social, a assistência social, a limitação de programas violentos na tv e nos meios de comunicação social, a protecção do desenvolvimento sadio das crianças e jovens, a melhoria da qualidade de vida das pessoas aumentando a oferta dos sistemas de saúde e dos ordenados... Possivelmente com tudo isto e mais do que qualquer um de nós se lembre para melhorar este país, os jovens não estariam tão indefesos, os pais teriam maior capacidade de acompanhar os filhos, as pessoas estariam mais felizes e menos propensas a relações agressivas com os outros. Se o estado e a sociedade não trata cada ser humano com respeito e dignidade, esta atitude destes jovens é apenas uma expressão duma sociedade doente e infeliz. Mas, de qualquer modo são responsáveis, sim. E, neste momento é preciso prender para mostrar a todos que se trata de um comportamento criminoso. Aproveite-se, também, para fazer intervenções nas escolas, com os pais destes jovens, com professores, com órgãos de comunicação social (que abusaram da difusão deste vídeo) e com todos por esse país fora. Porque isto é apenas a ponta do iceberg. Muito mais se passa que não sabemos nem fazemos ideia.
ResponderEliminarTPP