AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 15 de maio de 2011

PELA LEGALIZAÇÃO DA PLANTAÇÃO E CONSUMO DAS MARQUISES

Finalmente. No meio de tantas dificuldades e da cacofonia deprimente em que se transformou o cenário político, de forma completamente inesperada, surge uma notícia verdadeiramente importante, um exemplo do que deve ser um poder local ao serviço dos cidadãos, o que muitas vezes parece duvidoso. A Câmara da Amadora tem a intenção de legalizar as marquises. Isso mesmo, legalizar as marquises, boa parte das marquises.
Claro que decisões desta envergadura nunca são consensuais, a complexidade técnica do problema e a multiplicidade de dimensões envolvidas, estéticas, sociais, arquitectónicas, culturais, psicológicas, económicas, eu sei lá que mais, impedem esse consenso.
Um representante da Ordem dos Arquitectos tem uma opinião razoavelmente favorável enquanto um tal Luís Mesquita que há algum tempo encetou uma cruzada fundamentalista contra as marquises, continua firme na recusa de tal cenário.
Já na altura em que este senhor lançou uma campanha contra as marquises me indignei. Nunca pensei que o esforço de normalização fosse tão longe. Para além de tudo, choca-me que seja um de nós a combater o nosso património. Porquê tanto ódio às nossas queridas marquises? Porquê tanta indiferença face aos sacrifícios que milhares e milhares de cidadãos fizeram no sentido de dotar as suas casinhas de uma marquise? Que terá o senhor contra as marquises? Algum traumatismo de pequeno que só Freud explicará? Será que está assolado com o vírus da inveja? Eventualmente habitará uma daquelas casas que não permitem o “upgrade” da marquise e então a ridícula vingança sobre quem, após porfiados esforços, se revê feliz numa lindíssima marquise.
Não pensa certamente no bem-estar das famílias com a casa marquisada. Onde passarão a enfiar o divã onde dorme a sogra? Onde colocarão aqueles dois maples em napa, por acaso muito jeitosos, e a televisão em cima da mesinha com um naperon, ao lado da jarra com flores de plástico e com o quadro do menino com a lágrima no olho na parede em frente. É neste espaço que o dono da casa vê descansado o futebol. Já ouvi defender a utilização de toldos em vez das marquises. Que é isso? Mas as nossas casas são alguma esplanada ou quê? Fala-se da questão estética pela diversidade. Mas a diversidade é um espelho da natureza e uma forma de combater a monotonia do sempre igual, se repararem os alumínios e as pinturas das marquises são bem diferentes e daõ colorido a paisagens urbanas que corriam o risco depressivo da monotonia.
E é preciso atenção, este senhor também é contra os estendais. Não percebo. Os estendais são uma excelente base para as relações de vizinhança. Quantas informações não se trocam sobre a vida do bairro enquanto se estendem as cuecas? A roupa pinga, claro que pinga, é água limpa, lava os passeios e refresca eventuais ideias apanhadas na queda. Convém não esquecer que o estendal é amigo do ambiente, consome energia limpa, eólica e solar, ao contrário da poluente e mais cara máquina de secar.
O meu bem-haja à iniciativa da Câmara Municipal da Amadora de legalizar as marquises. Talvez estes visionários autarcas consigam até promover através de alguma forma de incentivos, abaixamento do IMI por exemplo, que as poucas varandas ainda descobertas se possam marquisar.
Oxalá o exemplo prolifere mas tenho reservas, as boas práticas autárquicas quase nunca são seguidas.

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