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segunda-feira, 23 de maio de 2011

AS CRIANÇAS REJEITADAS, AS ABANDONADAS E AS ADOPTADAS

O Público de hoje aborda a questão da adopção infantil em Portugal matéria que frequentemente aqui refiro. De 2008 para cá tem vindo a baixar significativamente o número dos candidatos à adopção e continuamos com uma elevada quantidade de crianças institucionalizadas, muitas das quais sem projectos de vida viáveis pese o empenho e os técnicos. Neste universo acresce a dificuldade enorme de algumas crianças em serem adoptadas devido a situações como doença, existência de irmãos ou uma idade já elevada. Assim, muitas crianças estarão mesmo condenadas a não ter uma família. Curiosamente, existem famílias interessadas na adopção de bebés que esperam até cinco anos porque entre os mais pequeninos passíveis de adopção, o número é menor.
As razões apontadas para o abaixamento das candidaturas prendem-se com questões económicas, um filho é um bem caro, mas também com o peso processual de uma iniciativa de adopção que leva a que a espera média de uma família se situe nos três anos segundo estudo realizado pela DECO. Como é óbvio, um processo de adopção é algo cuja qualidade não pode em momento algum ser hipotecada e o Plano Nacional de Adopção zela por isso. No entanto, parece claro que o processo carece de agilização de modo a que os candidatos à adopção não desistam assustados com a morosidade.
Ainda a propósito da questão da adopção e dos cuidados familiares aos miúdos algumas notas já aqui deixadas sobre as crianças abandonadas, rejeitadas e adoptadas.
Por estranho que possa parecer, existe uma outra realidade, menos perceptível em termos globais, mas conhecida por aqueles que lidam de mais perto com as crianças e que remete para a quantidade enorme de situações de crianças abandonadas e rejeitadas dentro das famílias, algumas destas famílias até com um funcionamento aparentemente normal.
Pode parecer surpreendente esta abordagem, mas muitas crianças vivem em famílias, diferentes tipos de família, que, por variadíssimas razões, as não desejam, as não amam, apenas as toleram, cuidam, pior ou melhor, sobretudo nos aspectos "logísticos". Em alguns casos, são mesmo crianças a que "não falta nada", dizem-nos. Na verdade falta-lhes o essencial, o abrigo de uma família.
Quando penso nestas situações lembro-me sempre de uma expressão que ouvi já há algum tempo a Laborinho Lúcio num dos encontros que tenho tido o privilégio de manter com ele.
Dizia Laborinho Lúcio que "só as crianças adoptadas são felizes, felizmente a maioria das crianças são adoptadas pelos seus pais”. Na verdade, muitas crianças não chegam a ser adoptadas pelos seus pais, crescem sós e abandonadas.
Existem mais crianças a viver narrativas desta natureza, abandonadas e ou rejeitadas dentro da família, do que se pode imaginar.

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