AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 17 de abril de 2011

HÁ VIDA PARA LÁ DOS PARTIDOS

Ao que parece e a história mostra, falar de negociação a propósito da intervenção do FMI, ainda que numa co-produção com o FEEF, não passará de um eufemismo. Na verdade, estas duas instituições definirão o caderno de encargos mediante o qual injectam o dinheiro necessário, restando às autoridades portuguesas a assinatura do memorando e a utilização de uma retórica que mascare a sua falta de autonomia e a transformação de Portugal num protectorado nos próximos anos, como ontem Nicolau Santos bem referia no Expresso.
Neste quadro, resta às lideranças políticas que aspiram ao poder, designadamente PS e PSD, entreterem-se numa espécie de jogos florais de troca de opiniões vazias de conteúdo e assentes nas minudências pessoais ou partidárias, que pretende convencer o eleitorado de que sempre seremos nós, eles os que ocuparem o poder, a decidir.
Este caminho, fora da realidade, parece-me pouco desejável e com riscos.
São cada vez mais as vozes que se mobilizam contra a exclusiva concentração nos partidos dos destinos e dos conteúdos da vida política portuguesa que, aliás, bem se esforça por afugentar as pessoas sérias, veja-se o recente episódio da triste figura de Fernando Nobre contratado de forma oportunista pelo PSD.
O movimento iniciado a 12 de Março, discursos como o de Marinho Pinto apelando a "uma greve à democracia", a referência de Otelo Saraiva de Carvalho, "o dono do 25 de Abril", à democracia directa, fora do controlo partidário e o exemplo dos referendos na Islândia pode prenunciar a instalação de um sentimento de "revolta" que tanto pode encaminhar-se numa saudável reforma dos modelos de organização e participação cívica como, pelo contrário, traduzir-se em fenómenos de radicalização e protesto social com contornos e consequências imprevisíveis.
Os partidos continuam centrados nos seus umbigos e interesses de poder correndo o risco de se ver ultrapassados pelas circunstâncias históricas e perceber um dia, finalmente, que haverá vida política para lá dos partidos.

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