Nos meus tempos de gaiato, a avó Leonor, uma das mulheres mais fantásticas que conheci, com a mais-valia de ser minha, a minha avó, quando nós caíamos em alguma asneira e tentávamos as esfarrapadas desculpas que a imaginação, ou a falta dela, ditavam ou ainda, quando as pequenas mentiras não saíam bem, tentava compor um ar severo, desmentido por uns olhos claros infinitamente doces, e dizia, “não sejam troca-tintas”.
Não me lembro se alguma vez lhe perguntei se sabia a origem da expressão, mas hoje lembrei-me delas, da avó Leonor e dos troca-tintas.
O Público de hoje evidencia as contradições no discurso do novo político mais velho de Portugal, o Dr. Passos Coelho que se afirmava contra o aumento de impostos sobre o consumo, admitindo agora possam aumentar. Também hoje toda a oposição vai rejeitar no Parlamento o modelo de avaliação de professores que está em vigor. Trata-se na verdade de um mau modelo pelo que, naturalmente, não deveria ter entrado em vigor. Acontece que muitos dos representantes sindicais dos professores o aceitaram e a oposição na altura não tomou a posição que agora toma no sentido de evitar que tivesse entrado em vigor. Fica curioso, assistir ao apoio do comissário Mário Nogueira e ver o PCP apoiar o PSD quando se conhecem as enormes diferenças de concepções sobre o universo da educação existentes entre as forças que agora se unem.
Tudo isto acontece, como sempre, porque os troca-tintas se orientam pelos seus interesses partidários e corporativos funcionando tacticamente. Agora parece oportuno o que há uma ano atrás não quiseram fazer, impedir um mau modelo de avaliação. Cheira a eleições, começou a campanha da demagogia, hipocrisia e eleitoralismo.
Este comportamentos, a contradição, discurso de cata-vento, mostra a arquitectura ética em que assenta a prática política em Portugal.
Gostava de estar enganado, mas estamos entregues aos troca-tintas, como diria a Avó Leonor.
A minha avó não utilizava o termo "troca-tintas" mas sim o "estás a mentir com todos os dentes que tens na boca" . Admitindo que este último termo chegava aos nossos dias com o peso da verdade insofismável, creio todos os nossos políticos se desdentavam precoce e integralmente para em alturas de promessas sacar da prótese dentária e serem levados a sério.
ResponderEliminarEu acredito incondicionalmente na maioria dos provérbios portugueses!
Eu acredito cegamente na minha avó!
Por isso quando a classe acima mencionada promete benefícios ao POVO eu imediatamente PLAGIO A MINHA AVÓZINHA!
saudações
Professor, peço desculpa, mas vou novamente ter que defender no seu blog a urgência de uma renovação da cultura partidária, principalmente da partidocracia dualista de centro conservador, invariavelmente a tender para a esquerda. Estes dualismos e clivagens ideológicas são propícios a estes troca-tintas, a este oportunismo politico e a uma presença do Estado enorme e interesseira, quando se urge uma ideologia nova e com vista no futuro: o Liberalismo Democrata sem irresponsabilidades sociais.
ResponderEliminarCaro Anónimo, Vamos ver qual a capacidade regeneradora do nosso sistema.
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