AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 5 de março de 2011

AS MUDANÇAS NAS FAMÍLIAS E A EDUCAÇÃO FAMILIAR

O Público de hoje traz um excelente trabalho sobre a percepção que os portugueses, os portugueses inquiridos na pesquisa, têm da família e das mudanças significativas que esta instituição tem vindo a sofrer.
O trabalho é bastante completo e mostra alguns dados muito interessantes sobre a forma com são percebidas as mudanças e as suas implicações no funcionamento das famílias, no plural como já são também entendidas. Recomendo vivamente a sua leitura.
No entanto, do meu ponto de vista ficou por abordar um aspecto que me parece extraordinariamente relevante e que considero dos mais complexos desafios sociais que actualmente enfrentamos, a educação familiar.
De facto, as enormes mudanças que temos vindo a constatar no universo das famílias implicam uma séria reflexão sobre as suas implicações na educação familiar. O paradigma clássico, a família educativa e a escola instrutiva, mudou substantivamente o que não significa, obviamente, a alienação do papel educativo da família mas sim atentar nas novas qualidades que esse papel vai assumindo, parafraseando Camões.
Desde logo porque, por questões de logística e funcionalidade, o tempo familiar para as crianças encolheu de forma dramática, os miúdos passam tempos infindos na escola sob um princípio a que até o ME se lembrou de chamar de forma infeliz “Escola a tempo inteiro”. As famílias expressam uma enorme dificuldade em compatibilizar o que ainda entendem ser o seu papel educativo com a pressa e o pouco tempo que assumem ter para o realizar. Tenho conhecido dezenas de pais que se sentem culpados e fragilizados por entenderem que não têm para os filhos a disponibilidade de tempo e atitude que julgam necessária. Esta culpa e fragilidade é, com frequência, a base inconsciente que impede alguns pais de serem consistentes e firmes na definição de regras e limites imprescindíveis às crianças, pois “temem estragar” o pouco tempo que têm com elas devido a um eventual conflito.
Uma outra questão prende-se com o modo e a dificuldade que muitos pais me referem sentir quando lidam com as crianças em situação de “duas famílias”. Mais uma vez, as inseguranças e algum sentimento de culpa estão presentes e contribuem para embaraços que levam os pais a pedir alguma ajuda. Como sempre digo, é preferível uma boa separação a uma má família, mas alguns pais sentem-se inseguros para construir cenários de educação familiar com qualidade quando têm a guarda das crianças repartida.
A experiência mostra, como referi acima, que a educação familiar se constitui como uma área extremamente complexa, não existem dois contextos familiares iguais e trata-se, como o trabalho do Público evidencia, de um universo extremamente sensível a valores e convicções.
Assim sendo, importa estarmos atentos e procurar disponibilizar apoios e orientações nas situações em que os pais revelam e exprimem mais insegurança e dificuldades. Estas situações são bem mais frequentes do que julgamos ser.

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