Ainda hoje não sei se será motivo de orgulho ou de constrangimento o meu envolvimento nesta história. Lembrei-me dela por causa do S. Valentim. Tínhamos uns treze ou catorze anos e dançávamos entre as coisas da escola e a descoberta dos afectos, o bem-querer a alguém. Do grupo fazia parte o Paulo, o Pirolito já não me recordo porquê. O Pirolito, um tipo daqueles que não se aquieta um minuto, andava infeliz, tinha uma paixão pela Joana que, desconsolo supremo, não lhe ligava. O Pirolito era a tristeza feita gente, então quando nos via inchados com os nossos bem-querer, os olhos eram um espelho de mágoas. Um dia, o Zé que namorava, como esta palavra nos soava bem, com a Sofia, a melhor amiga da Joana, teve uma ideia, esquisita, achámos todos. E se através da Sofia se pedisse, no maior dos segredos, à Joana que aceitasse o Pirolito como namorado, mesmo só uns dias.
Não é que a Joana aceitou. Encorajámos o Pirolito que, cheio de medo, de novo tentou a Joana. E ela disse que sim. O Pirolito, como hoje se diria, passou-se, creio mesmo que foi ele o primeiro homem, rapaz na verdade, a ir à Lua.
Alguns dias depois, com um qualquer pretexto, o namoro acabou. Curiosamente o grupo envolvido não mais conversou sobre esta trama.
Com os anos a passar não mais soube do Pirolito nem da Joana, mas tenho duas convicções. O Pirolito viveu certamente alguns dos dias mais felizes da sua vida e a Joana, cuja acção gosto de interpretar como generosidade, deve continuar a fazer felizes as pessoas à sua beira, mesmo por momentos.
E eu, como vos disse, não sei se me devo orgulhar desta história, ou se me envergonhe da batotice que fizemos. Mas, aqui para nós, não estou muito preocupado com isso.
Meu caro
ResponderEliminarNão se martirize a carregar esse trauma tão longìnquo!
Todos sabemos que os treze/catorze anos de idade humana conrespondem, em termos de sentimentos e crueldade á IDADE DAS TREVAS na nossa civilização.
Como disse ESPANCA e diria o seu amigo Pirolito se tivesse veia poética.
Tirar dentro do peito emoção
A lúcida verdade, o sentimento
E ser, depois de vir do coração
Um punhado de cinza esparso ao vento.
Um abraço