AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

NA NOSSA CASA, SEMPRE

É uma notícia feia, pequenina e obviamente mal escolhida para começar uma semana. Um casal de velhotes, 81 e 82 anos, habitantes de uma aldeia da zona de Santarém, suicidaram-se. Ao que parece, terão deixado uma mensagem à família explicando que o gesto se devia à recusa da ida para uma instituição, intenção que sabiam existir por parte dos seus próximos.
Tal gesto, a última e trágica cumplicidade daquele casal, é um espelho de boa parte das inquietações dos velhos nas nossas comunidades.
As mudanças nos valores, nos estilos de vida, na mobilidade e dispersão das famílias, nos índices de longevidade, etc., têm contribuído para que cada vez mais se recorra à institucionalização dos velhos ou se instale a solidão em que muitos vivem.
Como é evidente, haverá situações em que essa poderá ser a resposta mais adequada, mas não pode ser, não tem que ser, encarada como o "destino" normal de quem envelhece.
A saída de casa, da sua casa, do seu porto de abrigo de uma vida, pode representar a definitiva perda da dignidade, o reconhecimento de uma inutilidade que se emprateleira numa instituição onde, melhor ou pior tratado, se aguarda pela partida.
Este casal não terá resistido a essa perda de dignidade, ao reconhecimento da inutilidade e da desesperança e não quis esperar.
É preciso coragem.

1 comentário:

  1. Este texto lembra-me o filme "Mar Adentro" com o javier Barden.

    Abraço
    António Caroço

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