A violência escolar é reconhecidamente um fenómeno complexo, grave e com múltiplas variantes sendo uma delas o designado bullying homofóbico, objecto de uma campanha em curso da responsabilidade do Projecto Inclusão e com o apoio da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. Tal como Júlio Machado Vaz, citado no Público, entendo que a violência escolar deve ter uma abordagem global, embora no âmbito das competências dos responsáveis entenda a iniciativa. É um lugar comum afirmar que a escola é, será sempre, um reflexo do contexto económico, social e cultural, bem como do sistema de valores em que se integra. Neste quadro, em tempos de violência, a escola espelha essa violência, em tempos de sentimento de insegurança, a escola espelha essa insegurança, em tempos de sentimento de impunidade, a escola espelha esse sentimento de impunidade. Pela mesma razão, se a sociedade “crescida” discute e diverge sobre a igualdade de direitos para cidadãos homossexuais, não será de estranhar que também alguns dos mais novos não reconheçam como pares os seus colegas homossexuais, uma base para comportamentos discriminatórios e agressivos. Por tudo isto não é possível, como alguns discursos o fazem, responsabilizar exclusivamente a escola, por estas situações. A escola fará certamente parte da solução mas não é, não pode ser, a solução. O combate a este comportamento passará por intervenções concertadas no âmbito das comunidades.
Uma outra questão associada ao fenómeno prende-se com o trabalho com as famílias. Muitos casos de violência escolar estão associados, não estou a falar de uma relação de causa-efeito, à acção negligente ou menos competente por parte das famílias. Continuo fortemente convicto que nas escolas deveriam ser criados dispositivos, com recursos, humanos e de tempo por exemplo, para trabalho sistemático e estruturado com as famílias. Com as metodologias mais frequentes, reuniões de pais e convocatória para famílias problemáticas irem à escola, que se revelam ineficazes, a maioria dos pais nem sequer aparece, creio que será muito difícil alterar ou, pelo menos, minimizar os efeitos das variáveis familiares nos comportamentos dos miúdos.
Um outro aspecto ainda dentro da instituição escola prende-se com o facto conhecido de que os problemas mais significativos sentidos nas escolas, indisciplina, violência, delinquência, bullying nas suas diferentes variantes, etc. ocorrem, obviamente, nas salas de aula e, sobretudo nos espaços de recreio que requerem uma atenção educativa nem sempre efectiva.
Em muitas escolas a insuficiência de pessoal auxiliar, agora baptizados “assistentes operacionais” não permite a ajustada supervisão desses espaços. Por outro lado, a sua formação em matérias como supervisão educativa e mediação de conflitos, por exemplo, e, ou, o entendimento que têm das suas competências, muitas não valorizadas pela própria comunidade, leva a alguma negligência ou receio de intervenção.
Talvez não seja muito popular mas digo de há muito que os recreios escolares são dos mais importantes espaços educativos, aliás, muitas das nossas memórias da escola, boas e más, passam pelos recreios. Neste sentido, defendo que a supervisão dos intervalos deveria ser da responsabilidade de docentes. A reestrutura da enorme carga burocrática do trabalhos dos professores, dos modelos de organização e funcionamento das escolas, por exemplo, poderiam libertar horas de docentes para esta supervisão que me parece desejável.
Os homosexuais que sofrem bullying são mais desgraçados do que os outros?
ResponderEliminarAbraço
António Caroço