AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

OS TEMPOS QUE NOS FALTAM

Um estudo hoje divulgado no Público realizado em 14 países da Europa sugere que os portugueses são os que mais dificuldades revelam em conciliar trabalho com vida pessoal. De facto, 84 % dos inquiridos revelam essa dificuldade sublinhando a falta de tempo para a família e amigos, para si próprios e companheiros e para actividades de lazer.
Já tenho referido aqui no Atenta Inquietude que uma das questões mais associadas aos estilos de vida que suportam os dados acima é o envolvimento dos pais no processo educativo escolar dos filhos. Com as circunstâncias de vida diária actuais não é fácil, sobretudo em zonas urbanas, a presença dos pais na escola com consequências óbvias. É certo que se verificarão algumas situações de negligência mas muitas das ausências decorrem da dificuldade de conciliar com a vida profissional.
Considerando este cenário, defendo há muito a pertinência de, em sede de Concertação Social, avançar com propostas de alteração legislativa, sobretudo, na organização horária do trabalho que poderia, essa sim, ter impacto na disponibilidade dos pais. Não me parece impossível que em muitas profissões os tempos de trabalho pudessem ter outra distribuição permitindo mais tempo com os filhos e menos tempo destes na escola.
Ainda a propósito da dificuldade de conciliar trabalho e vida pessoal deixo uma estória que há dias poisou no Atenta Inquietude.

Bom dia, venho apresentar uma queixa.
Com certeza, contra quem?
Contra muita gente.
Será, portanto, contra incertos. E apresenta queixa porquê?
Por roubo, roubaram-me tempo.
Muito bem, então roubaram-lhe tempo. Por favor, pode explicar um pouco melhor para eu poder registar a situação.
Eu já não tinha muito tempo porque nunca fui uma pessoa muito rica de tempo, mas o pouco que tinha roubaram-me. Fiquei sem tempo para estar com os meus filhos e brincar com eles. Este tempo faz-me muita falta, os miúdos andam tristes porque desde que me roubaram o tempo não consigo mesmo. Já não tenho tempo para descansar ou ler qualquer coisa como gostava de fazer. Não tenho tempo descansado para a minha mulher que também precisava do tempo que eu tinha e que partilhava com ela. No meu trabalho não tenho tempo para parar um minuto sem que alguém venho logo chamar a atenção. Fiquei sem o tempo que tinha para beber um copo com os meus amigos e trocar umas lérias que serviam para aliviar das coisas da vida.
Eu percebo o seu problema, mas como deve calcular não tenho tempo para queixas como as que apresenta.
Não tem tempo? Não me diga que também lhe roubaram o tempo. Até às autoridades, é demais.

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