Como já tive oportunidade de sublinhar e não é de todo estranho que aconteça, o governo tem aproveitado ao máximo os resultados positivos que a última avaliação no âmbito do PISA mostraram, para retirar os dividendos que a luta política exigem. Hoje na Assembleia da República teve uma antecipada prenda de Natal com o reconhecimento por parte do PSD de que vai na direcção certa em matéria de educação. Neste afã de aproveitamento, aconteceu até ouvir, certamente por lapso, o Primeiro-ministro atribuir a algumas medidas o progresso no PISA, sendo que essas medidas não abrangem os jovens de 15 anos, justamente os que foram avaliados. Enfim, a política pequenina.
Neste contexto, o Governo não podia deixar de escolher para tema do debate quinzenal na AR o conforto destes dados e aproveitou para anunciar o reforço da educação matemática no Estudo Acompanhado, a criação de uma tutoria digital disponível para apoio aos alunos e o reforço dos programas que envolvem os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária.
Aumentar os dispositivos de apoio aos alunos e reforçar programas a operar em zonas de reconhecida dificuldade parece-me, por princípio, positivo. Também é positivo o entendimento da necessidade de reforço do trabalho na educação matemática ou em português e ciências. A minha reserva é que isto aconteça no âmbito do Estudo Acompanhado e não numa mudança mais profunda e imprescindível na organização e conteúdos curriculares.
Como referi ao comentar os resultados no PISA e é, creio, consensual, as 3 horas semanais dedicadas a português e matemática parecem manifestamente insuficientes para permitirem de forma sustentada progressos nas competências fundamentais. Assim, do meu ponto de vista, a mudança deveria centrar-se na globalidade da matriz curricular e não numa área não curricular que é gerida nas escolas com uma enorme ambiguidade e, frequentemente, de forma pouco regulada, como é o caso do Estudo Acompanhado.
É importante ir na direcção certa, mas também é importante fazer certo o caminho.
Os dados do PISA, quando colocavam Portugal em maus lençóis, eram vistos com descrédito. Agora que os colocam num berço de ouro, todos puxam os méritos como quem puxa o carvão para assar a sua sardinha. Estamos hoje perante um caso semelhante ao daqueles pais que se o filho se dedica, estuda e obtém bons resultados se apressam imediatamente a dizer "Ah! O meu filho é muito inteligente!" mas que, se o filho preguiça, não estuda e os resultados ficam aquém do esperado, não hesitam em protestar dizendo "o professor é um burro!". Também temos aqui os que tão rapidamente dizem que Sócrates é Besta como é Bestial... Até aqui, os professores é que eram os culpados pelos resultados dos alunos. Porque os resultados educativos custam a aparecer. Afinal, contrariamente ao que a Maria de Lurdes defendia, concluímos que só são da responsabilidade dos professores quando os resultados são negativos... Se são positivos, o mérito vai para a absurda a ministra, mesmo que tenha contribuído para o pior estado da Educação... Os resultados em nada constatam que estejamos melhor que antes. Apenas nos dizem em que posição estamos comparativamente com os outros... Da mesma forma uma empresa que se aguenta acumulando dívidas não significa que esteja bem só porque a sua vizinha do lado já abriu falência! Se Maria de Lurdes não tivesse desmotivado os professores hoje teríamos uma recuperação muito superior e não apenas de meia dúzia de pontos do ranking. Com outra motivação de alunos e professores, bem poderíamos ter subido 15 ou até 20 pontos no ranking. Assim, ficamos contentes porque outros perderam posições no ranking! É como nos campeonatos de futebol. O que importa não é um clube estar melhor que no ano anterior. Basta que os adversários estejam piorou perca pontos. E a crise atacou a Espanha mais que Portugal... Claro, Espanha que recebeu imensos imigrantes e os testes do PISA incluem todos os jovens de 15 anos! Alguém contradiz isto? Salários dos Professores na OCDE - Verdade ou Mentira ?
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