AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

E NÃO SE PODE DAR UM JEITINHO?

A propósito do Dia Internacional de Combate contra a Corrupção dados do Barómetro Global da Corrupção no âmbito da Transparency International mostram que 83% dos portugueses acham que piorou a questão da corrupção e 75% não acredita na eficácia do combate.
Certamente por coincidência, ficamos a saber que a economia paralela potenciada pela crise e pelo aumento de impostos representa cerca de um quarto da riqueza nacional. Um indicador deste peso pode ser o facto de, segundo a imprensa de hoje, o negócio dos lares ilegais para idosos ser uma área que movimentará qualquer coisa como 31 milhões de euros.
A questão é que esta matéria vai bem com a nossa cultura, a do "dar um jeitinho", "fazer uma atençãozinha". Depois é uma questão de escala, pode ir de meia dúzia de robalos a milhões colocados em zonas francas. Diversas vezes aqui tenho me referido a essa espécie de traço da nossa cultura cívica "a atençãozinha" ou a sua variante "dar um jeito". Trata-se de um fenómeno, um comportamento, profundamente enraizado e com o qual parecemos ter uma relação ambivalente, uma retórica de condenação, uma pontinha de inveja dos dividendos que se conseguem e a tentação quotidiana de receber ou providenciar uma "atençãozinha" ou pedir ou dar um jeito, sempre "desinteressadamente", é claro.
Os dados do barómetro mostram que os portugueses entendem que não existe vontade política de combater a corrupção. A teia de interesses que ao longo de décadas se construiu envolvendo o poder político, a administração pública, central e autárquica, o poder económico, o poder cultural, a área da justiça e segurança, parte substantiva da comunicação social e toda a relação do dia a dia com a "atençãozinha" à recepcionista que nos passa para a frente na lista de espera ou ao funcionário de quem esperamos que possa dar um "jeito", dificulta seriamente um combate eficaz. Este combate passará, naturalmente, por meios e legislação adequada, mas passa sobretudo pela formação cívica que promova uma outra cidadania. Estarão lembrados que há algum tempo atrás foram divulgados estudos evidenciando a nossa atitude tolerante para com a corrupção.
Certamente que poderíamos viver sem a "atençãozinha" ou o "jeitinho", mas não era a mesma coisa.

1 comentário:

  1. Não confundir "uma mão lava a outra" com "uma mão lava as ostras".

    Abraço
    António Caroço

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