O Público de hoje apresenta um trabalho notável sobre uma realidade que todos imaginamos mas porque, felizmente, não lidamos com ela de perto não lhe conhecemos a dimensão brutal do ponto de vista emocional.
O trabalho é sobre a experiência dos médicos da especialidade de oncologia e oncologia pediátrica, sobretudo de um deles, Armando Pinto, que publicou o livro "Vivências de um médico oncologista pediátrico" onde aborda o sofrimento em três planos, o das crianças com quadros clínicos do foro oncológico, o seu trajecto e a tragédia muitas vezes anunciada e outras vezes enganada, o sofrimento dos familiares que merecem uma dedicatória, "Às mães que me deslumbram na minha vida profissional" e o sofrimento do médico ao lidar com o sofrimento do outro e com a impotência face às tragédias devastadoras que não se conseguem evitar bem como da felicidade das situações resolvidas.
Muitos estudos sobre as dificuldades emocionais e o nível de stress que as diferentes profissões colocam, apontam para as profissões que lidam com o sofrimento como as mais susceptíveis de provocar situações complicadas aos profissionais. De facto, lidar com o sofrimento do outro exige uma capacidade de empatia e acolhimento enormes mas, simultaneamente, exige uma extraordinária resistência emocional para manter a capacidade intervenção e ajuda, sendo que, em muitas circunstâncias, os profissionais são as últimas fontes de equilíbrio e apoio por parte de doentes e familiares.
Um outro médico, Nuno Gil, refere o facto de uma psicóloga lhe ter dito que os médicos não deveriam chorar porque não se podem comprometer emocionalmente com os doentes. O médico em causa entende que em algum momento o médico tem que chorar com os seus doentes. Como dizem estes médicos o clínico não pode ser só testemunha do sofrimento.
É preciso aprender a sofrer de sofrimento, o Dr. Armando Pinto pensava que com a experiência ficaria mais fácil mas não, é mais difícil. Só a indiferença é que produz insensibilidade. Como estes médicos não são indiferentes, sofrem de sofrimento e, por isso, precisam de chorar. São gente como nós e eu estou-lhes reconhecido por isso.
Elas não podem nem devem ser indiferentes. Mas se se aproximarem demais do doente e sofrerem com ele como sofrem os seus familiares e amigos, conseguirão manter o discernimento médico? Talvez não e por isso prejudicarão o doente. Ao fim de algum tempo isso perturbará tanto o médico que prejudicará, além do próprio claro, também os seus familiares e amigos.
ResponderEliminarÉ por isso necessário um equilíbrio. Suponho que seja muito difícil de alcançar e ainda mais de manter.
Não podem ser apenas grnades médicos, têm também de ser também grandes pessoas.
O meu texto vai no mesmo sentido.
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