AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 31 de outubro de 2010

MAS AS CRIANÇAS, SENHOR, ...

No Público de hoje aborda-se o impacto que os cortes nos apoios sociais, no caso os abonos de família, podem ter no agravamento do risco de pobreza infantil. Os dados do INE identificam regularmente as crianças como o grupo mais vulnerável ao risco de pobreza. Em Portugal, cerca de 25% das crianças estão em risco e registam o menor impacto das transferências sociais. De facto, a taxa de pobreza é de 33.5% antes das transferências e de 23% depois das transferências sociais o que demonstra o baixo impacto que estas medidas evidenciam na redução da pobreza.
Este cenário não sendo surpreendente, os mais pequenos são sempre mais vulneráveis, requer a maior das atenções.
Os tempos que atravessamos e os que se avizinham parecem conter enormes dificuldades para as famílias que são chamadas a enorme sacrifícios, por exemplo, deixando de ter acesso a alguns apoios sociais de que beneficiavam.
O aspecto particular do risco de pobreza que afecta os miúdos deveria ter uma ponderação que lamentavelmente não parece estar presente face às decisões a que assistimos.
Ninguém, apesar da retórica, parece estar verdadeiramente interessado em medidas que equilibrem as contas públicas da forma acertada, reformar a organização do estado, autarquias e governos civis por exemplo, ou promover equidade fiscal, designadamente no IRC (a banca continua e continuará independentemente do governo que se instale em situação de escandaloso benefício). Ninguém está verdadeiramente interessado em eliminar as centenas de organismos, entidades, fundações, empresas municipais inúteis e consumidoras de milhares de milhões. Ninguém está verdadeiramente interessado em emagrecer gabinetes e organismos onde se atropelam as clientelas dos aparelhos partidários. Esta situação foi alimentada e promovida por todos os partidos que já ocuparam poder, repito, por todos os partidos.
É sempre mais fácil cortar de forma administrativa e cega com base nos ganhos imediatos, sem atender às implicações na vida futura de um quarto da população que estando agora a começar o seu projecto, o fazem num quadro de privação e promotor de exclusão.
Não estou muito optimista relativamente a que do actual quadro político, a partidocracia, possa emergir uma solução, creio que só uma renovação da participação cívica dos cidadãos, desconfiados e descrentes na classe política, poderá, creio, pressionar a mudança.
No entanto, seria fundamental que, quanto mais não seja por uma questão de dignidade e solidariedade, bens em desuso nas tomadas de decisão política, não ameacem mais o bem-estar dos miúdos.

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