AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

EPÍLOGO. FOI O INVERNO

Provavelmente será o último texto que aqui coloco a propósito da tragédia que envolveu o Leandro. Como disse na altura, a conclusão do inquérito da Inspecção-geral da Educação no sentido de não ser possível estabelecer nexos de causalidade entre os factos divulgados e a morte do miúdo era mais do que provável. O inquérito também levantava a possibilidade da vigilância da escola, realizada por pessoas sob tutela da autarquia, poder não ter sido eficaz. O inquérito, há sempre mais um inquérito, conclui que eventuais falhas do porteiro têm atenuantes, como agora se confirmou, há sempre atenuantes. Cai assim o pano público sobre o desaparecimento do Leandro.
Faz parte do nosso funcionamento a necessidade de encontrar responsáveis, ou melhor, culpados, que permitam sossegar as nossas consciências e permitir que tudo continue na mesma. Neste caso, dada a sua natureza, não me parecia sequer possível que a comunidade suportasse uma responsabilidade individual por tal desfecho pelo que só poderia ser inconclusivo.
Estranhei, desculpem o humor negro, que ninguém tivesse referido o papel que um Inverno especialmente chuvoso que aumentou exponencialmente o caudal do Tua, teve na tragédia e que este inverno anormal se deverá às alterações climáticas decorrentes do aquecimento global de origem humana, este sim, o verdadeiro fenómeno responsável pela trágica morte do Leandro, sem água não há afogamento.
Voltando a um registo mais sério, o que me inquieta é que tragédias desta natureza pareçam nem sequer servir para questionar o que proporcionamos diariamente aos miúdos, a atenção que damos, ou não, aos seus sinais, a que sinais devemos estar atentos que nos ajudam a antecipar situações de mal-estar que possam ter desenvolvimentos negativos, que dispositivos de apoio e modelos de organização e funcionamento das escolas serão mais necessários e eficazes, etc. etc.
Tudo o resto estava bem, a responsabilidade seria do porteiro que, no entanto, tem atenuantes, muitas. Eu também acho que tem atenuantes, é apenas o porteiro e o que menos responsabilidades tem em tudo o que envolve o bem-estar dos miúdos.

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