O trabalho interessante e pertinente hoje divulgado no Público sobre a hiperactividade nas crianças, focando sobretudo o fortíssimo aumento do recurso aos fármacos, vem ao encontro de um texto que há algumas semanas aqui deixei. Antes de o retomar, parece-me de sublinhar duas ou três notas. Em primeiro lugar a dificuldade, referida pelos especialistas, de estabelecer diagnósticos conclusivos o que, naturalmente, exige prudência e competência. Em segundo lugar, o exponencial crescimento do recurso aos fármacos, a substância metilfenidato. Considerando este crescimento parece essencial a atitude cautelosa e competente face à hipermedicação de Nuno Lobo Antunes e de Mário Cordeiro que contrasta com a ligeireza, que não estranho, de Miguel Palha que sustenta que "as vendas deste fármaco deviam aumentar muito mais".
Retomando então o texto que aqui trouxe sobre a forma como se olha para, aqui vai.
De há uns tempos para cá uma boa parte dos miúdos e adolescentes ganharam uma espécie de prefixo na sua condição, o "dis".
Se bem repararem a diversidade é enorme, ao correr da lembrança temos os meninos que são disléxicos em gama variada, disgráficos, discalcúlicos, disortográficos ou até distraídos.
Temos também as crianças e adolescentes que têm (dis)túrbios. Estes também são das mais diferenciadas naturezas, distúrbios do comportamento, distúrbios da atenção e concentração, distúrbios da memória, distúrbios da cognição, distúrbios emocionais, distúrbios da personalidade, distúrbios da actividade, distúrbios da comunicação, distúrbios da audição e da visão, distúrbios da aprendizagem ou distúrbios alimentares.
Como é evidente existem ainda os que só fazem (dis)parates e aqueles cujo ambiente de vida é completamente (dis)funcional.
Pois é, há sempre um "dis" à espera de qualquer miúdo e senão, inventa-se, "ele tem que ter qualquer coisa".
Agora um pouco mais a sério, sabemos todos que existem um conjunto de problemas que podem afectar crianças e adolescentes mas, felizmente, não tantos como por vezes parece. Inquieta-me muito a ligeireza com que frequentemente são produzidos "diagnósticos" e rótulos que se colam aos miúdos, dos quais eles dificilmente se libertarão e que pela banalização da sua utilização se produza uma perigosa indiferença sobre o que observa nos miúdos. Inquieta-me ainda a ligeireza com que muitos miúdos aparecem medicados, chamo-lhes "ritalinizados", sem que os respectivos diagnósticos conhecidos pareçam suportar seguramente o recurso à medicação.
Esta matéria, avaliar e explicar o que passa com os miúdos e adolescentes, exige um elevadíssimo padrão ético e deontológico além da óbvia competência técnica e científica. Não se pode aligeirar, é "dis"masiado grave.
[o criancentrismo, mais tarde ou mais cedo dá sempre num (dis)qualquer coisa... o bom, seria "falar" qualquer coisa lá em casa!
ResponderEliminarE quanto aos produtos farmacêuticos, em tempos de crise, são o melhor produto para escoar... nem que se tenha que inventar gripes avulsas ou anomalias estranhissimas, que até há pouco eram diagnosticadas pelos nossos pais como "traquinice"... o remédio é que não me lembro qual era!]
abraço,
LB
Achei muito pertinente a forma como abordou este tema no seu blog. De facto os diagnósticos de 5 minutos em consultório e aviar a receita são comuns, pelo que muitas das crianças medicadas, correm riscos graves de efeitos secundários, perante a inércia da família, da escola e mais grave ainda da classe médica!
ResponderEliminarMas se me permite a observação, muitas outras andarão sem rumo durante anos, potenciais vidas «perdidas» porque nunca ninguém lhes deu o tal comprimido...
Parabéns pelo blog! está muito interessante e bem escrito
Teresa - mãe de um miúdo disfuncional (sem parêntises)