AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 20 de julho de 2010

BAIRROS SOCIAIS E COMUNIDADE

O I divulga um trabalho muito interessante, realizado pelo Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, sobre os chamados bairros sociais da cidade onde vivem cerca de 50 000 pessoas, 20% da população quando a média nacional é de 4%.
Antes de umas notas sobre o trabalho um pormenor sobre o tão usado termo "bairros sociais" que acho engraçado. Um bairro é por definição uma estrutura social pelo que falar de bairros sociais implica a existência de bairros que não são sociais, ou seja, não seriam bairros. Mas como todos sabemos o significado atribuído a "bairro sociais" voltemos ao estudo.
O que é mais interessante, do meu ponto de vista, e eventualmente menos esperado, tanto que o jornal puxa esse dado para título é o facto de a maioria dos inquiridos residentes em bairros sociais não quererem de lá sair apesar de reconhecerem dificuldades e problemas como delinquência associada quase sempre a tráfico de droga. Os habitantes apresentam baixos níveis de escolaridade e índices significativos de desemprego.
O facto de a maioria das pessoas inquiridas não querem sair do bairro mostra, do meu ponto de vista, exactamente a característica social dos bairros, isto é, a promoção de um sentimento de comunidade e de pertença que para pessoas mais vulneráveis e com menos autonomia devido à baixa escolarização e qualificação profissional, constitui um bem de primeira necessidade. Muitas vezes, em diferentes circunstâncias, ouvimos pessoas residentes em bairro sociais problemáticos defender o bairro e apontar as causas dos problemas ao que vem de fora, sublinhando sempre que esmagadora maioria dos habitantes do bairro são muita boa gente. Também é importante salientar que este sentimento de comunidade e de pertença se alimenta das relações de vizinhança que ainda se estruturam nos bairros e que são uma mais valia num quadro de dificuldades.
O grande desafio que as políticas de urbanismo e habitação colocam é como criar e manter nos tempo que correm, estruturas e equipamentos residenciais que preservem e promovam relações de vizinhança, sentimento de comunidade e pertença, mas que se construam fora de um quadro de guetização fonte de problemas e discriminação.

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