AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 10 de junho de 2010

ESSA ROUPA, NA ESCOLA NÃO

Num país onde sempre se nota a falta de assunto de discussão e alarido, de vez em quando aparecem episódios deste tipo relatados na imprensa, eventualmente haverá outros não publicitados. Depois de há algum tempo, uns três anos, se me não falha a memória, uma escola da zona de Sintra ter decretado um “dressing code”, surgiu depois a Escola 2, 3 José Maria dos Santos, em Palmela temos notícia agora da Escola Dr. Jorge Gouveia, Tavira, a proibir a alunos, professores e funcionários o uso de minissaias, decotes excessivos, calças descaídas, havaianas, etc. As reacções são as do costume. “Atentado aos direitos individuais” dizem uns, “que parvoíce” acham outros, “aceita-se” sustentam outros ainda, pais por exemplo, caso de elementos da Confap, embora a Dra. Maria José Viseu, presidente da CNIPE entenda que recomendar cuidados no uso das roupas nas escolas seja uma atitude “castradora”, “é preciso decoro” clamam mais alguns ou, argumento final, “farda é que é”.
Peço desculpa, mas esquece-se algo que me parece essencial. Os miúdos nesta fase, pré-adolescência e adolescência, estão a construir uma identidade, a sua. Tal “trabalho” passa, em todas as épocas (lembremo-nos da recusa da gravata nos anos 50, das minissaias dos anos 60, dos cabelos às cores dos anos 80, dos piercings a seguir, etc.), pela tentação de andar nos limites do instituído, linguagem, vestuário, “aspecto visual”, música, consumos, etc. Este tipo de funcionamento, quase sempre transitório, presente, de forma mais ou menos evidente, na generalidade dos adolescentes levanta algumas inquietações aos adultos que, à falta de melhor solução, têm a tentação de proibir, o que se compreende. Também me lembro de me terem proibido socas, a camisa por fora das calças e cabelo comprido. Mas só proibir é tapar o Sol com a peneira. Claro que muitos pais ficam contentes com o facto de a escola proibir algo que eles gostavam de proibir mas que não se sentem capazes, assim a escola compra, por eles, a “briga” com os filhos.
Por outro lado, é fundamental para os próprios adolescentes que percebam claramente que “não vale tudo” ao abrigo de discursos como, são direitos individuais, veste-se, fala-se e faz-se o que se quer, é um caso de liberdades individuais, considero este argumentário uma espécie de delinquência educativa. A vida em sociedade e o respeito por regras sociais obriga a que ninguém de nós possa fazer sempre o que quer, quando quer, onde quer, da forma que quer, etc. Construir de forma sensata estas balizas reguladoras é uma tarefa indispensável ao desenvolvimento e à formação.
O que quero simplesmente dizer é que, muito para lá das proibições, ou em vez das proibições, trata-se de construir valores, capacidade de auto-regulação dos comportamentos por parte dos jovens, de construção conjunta dos necessários códigos de conduta e de sermos capazes de discriminar o essencial do acessório.
Não é o tamanho da saia que previne a vitimização, não é a calça descaída que determina a indisciplina.

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