AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 21 de maio de 2010

UM DIA ACABO COM TUDO

A propósito da realização do XXI Encontro Nacional de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, o DN aborda a questão dos comportamentos autodestrutivos em adolescentes e jovens. São divulgados alguns dados que justificam umas notas simples. Na consulta de prevenção do suicídio dos Hospitais Universitários de Coimbra, metade dos atendidos tem menos de 24 e cerca de 20% repetem a consulta. Em 2007 ocorreram 8 casos de suicídio entre os 11 e os 20 anos e nos primeiros 6 meses de 2008 também se verificaram 8 casos.
Segundo os elementos do departamento de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria os comportamentos autodestrutivos em adolescentes são mais frequentes do que se pensa, estudos internacionais apontam para cerca de 10% da população em idade escolar com comportamentos de auto-mutilação.
Este quadro é um indicador do mal-estar que muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não conseguimos estar suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência situações de sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas, bullying por exemplo, ou relações degradadas em família que facilitam a instalação de sentimentos de rejeição, ausência de suporte social, facilitadoras de comportamentos autodestrutivos.
Curiosamente, em muitas circunstância este mal-estar é drenado para comportamentos com carácter mais social e que são percepcionados como “cool”, estimulando a “pica”, a adrenalina. O Público de hoje refere a preocupação que em França se sente com a realização de concentrações de jovens, convocadas através das redes sociais, num determinado local de uma cidade com o único fim de beber, muito. Ao que a notícia refere já se verificaram acidentes fatais.
É por questões desta natureza que tenho sempre alguma reserva face aos discursos sobre a juventude de hoje “a quem não falta nada”, que “tem tudo”. Por vezes tendo “tudo”, apenas não tem atenção, um dos imprescindíveis bens de primeira necessidade.

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