AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 7 de maio de 2010

OS TRANSTORNOS DA TOLERÂNCIA DE PONTO

Num país com uma das mais alta taxas de feriados e pontes da Europa, facto que tem sido sistematicamente combatido e criticado pelo cidadão comum, não é de estranhar o alarido causado pela incompreensível decisão do Governo de uma República laica, Portugal, no sentido de parar parte substantiva do País para receber o Papa Bento XVI. Sejamos sérios a olhar para esta questão.
Os discursos consistentes e, provavelmente, menos hipócritas, contra a tolerância de ponto são produzidos por uma minoria que entende que a situação económica e, ou, a laicidade do Estado não permitiriam suportar esta decisão. Uma parte significativa da população, cerca de 10%, os desempregados, ficarão, muitos, a pensar, que no “tempo em que tinha emprego o Papa não veio a Portugal” pelo que lhes é, actualmente, indiferente. A grande maioria da população no activo, fundamentada pela natureza da sua relação ética com o trabalho traduzida no velho paradigma “nunca mais me sai o euromilhões para deixar de trabalhar”, fica obviamente satisfeita com “uns diazinhos de folga” e ainda mais satisfeita se o tempo permitir uma primeira ida até à praia. Os miúdos, também vivem nesta cultura, pelo que não devem revelar-se particularmente incomodados com o fecho das escolas. No fundo, temos então uma parte da população que não foi abrangida e que, embora invejando a tolerância de ponto, sofre algumas implicações que se resolveriam se fosse mesmo decretado feriado nacional, mais um, isso sim, a decisão perfeita.
Por outro lado, temos um Governo que conhecendo bem a cultura predominante no cidadão comum e incomodado com a pressão que as incidências da crise, da aplicação do PEC e o exemplo da Grécia estão a ter e poderão acentuar-se no clima social, percebe que “uns diazinhos de folga” virão mesmo a calhar para desanuviar. É também de considerar que interessa sossegar as relações com a hierarquia da Igreja que ainda estão fragilizadas com a sequela da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo género. Neste contexto, o Governo só podia mesmo decidir isto, não percebo o alarido.

Sem comentários:

Enviar um comentário