AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A MINHA ESCOLA QUE NÃO É MINHA

A experiência de vida ensina-nos que o espaço em que nos movemos, vivemos, é algo de importante e organizador do nosso funcionamento. Na grande maioria das famílias, desde que haja condições, os lugares à mesa são preenchidos sempre da mesma forma, o pai senta-se sempre no mesmo sofá, o quarto de cada utilizador é personalizado, etc., ou seja, cada um tem o seu canto e é fundamental para nós sentirmos que temos um canto, um canto, um espaço, que para além da dimensão física tem, sobretudo, uma dimensão afectiva. No mundo profissional, a maioria das pessoas, independentemente do trabalho que realiza, procura criar um canto, sente essa necessidade, é a secretária decorada e arrumada ao jeito de cada um, é o canto da oficina com as ferramentas e fotos dispostas com um critério pessoal, é o armário onde se guarda o que é nosso, é a cabine do camião ou do táxi que não encontramos duas iguais, etc.
Pois na maior parte das escolas não existe um canto do aluno, um canto do professor ou um canto do funcionário. Nas escolas pouca gente tem o seu canto. O director, alguns funcionários administrativos, alguns professores de áreas específicas e poucos mais. Os restantes são assim uma espécie de “homeless”. Os alunos mudam de sala, para uma sala igual não têm uma sala Sua, não têm uma mesa Sua, não têm um armário Seu, não têm o Seu canto. É óbvio que algumas disciplinas requerem espaços e equipamentos específicos sendo, por isso, de utilização comum. Mas algumas salas poderiam, existem escolas que o fazem, ser dedicadas a um grupo, sempre o mesmo. Os materiais que lá ficam seriam daqueles alunos, os trabalhos expostos seriam daqueles alunos, os armários seriam utilizados por aqueles alunos. Na verdade, muitos professores sentem a mesma “orfandade” espacial, não têm um canto que sintam como Seu, ainda que partilhado.
Neste cenário não fica fácil criar um sentimento de pertença, a Minha escola, onde eu tenho o Meu canto. Esse canto, quando existe, tem, como disse acima, uma dimensão afectiva, é, portanto, mais fácil gostar de um canto que é nosso. Como diz o Caetano Veloso, “quando a gente gosta, a gente cuida”. Assim, muitos miúdos falam da “minha escola” sem que no fundo a percebam como sua e por isso, muitos a destratam, ou seja, não a cuidam.

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