AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 26 de maio de 2010

JÁ NÃO AGUENTO

Há poucos dias, coloquei um texto aqui no Atenta Inquietude a propósito dos comportamentos autodestrutivos em adolescentes e jovens, sobretudo dos casos de suicídio. Referi na altura que na consulta de prevenção do suicídio dos Hospitais Universitários de Coimbra, metade dos atendidos tem menos de 24 e cerca de 20% repetem a consulta. Em 2007 ocorreram 8 casos de suicídio entre os 11 e os 20 anos e nos primeiros 6 meses de 2008 também se verificaram 8 casos.
Segundo os elementos do departamento de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria os comportamentos autodestrutivos em adolescentes são mais frequentes do que se pensa, estudos internacionais apontam para cerca de 10% da população em idade escolar com comportamentos de auto-mutilação.
Este quadro é um indicador do mal-estar que muitos adolescentes e jovens sentem. Em muitas situações não conseguimos estar suficientemente atentos. Acontecem com alguma frequência situações de sofrimento com as mais diversas origens, relações entre colegas, bullying por exemplo, ou relações degradadas em família que facilitam a instalação de sentimentos de rejeição, ausência de suporte social, facilitadoras de comportamentos autodestrutivos. Começa também a emergir como causa deste mal estar a dificuldade que algumas crianças e adolescentes sentem em lidar com situações de insucesso escolar. Esta dificuldades são frequentemente potenciadas pela pressão das famílias e pelo nível de competição que por vezes se instala.
Neste quadro não é surpreendente o facto de em dois dias, dois adolescentes, em Torres Vedras e Guimarães, terem tentado o suicídio, resultando na morte de um deles e na situação grave do outro.
Depois das ocorrências torna-se sempre mais fácil dizer qualquer coisa mas é necessário insistir. Muitas crianças e adolescentes evidenciam no seu dia a dia sinais de mal-estar a que, por vezes não damos atenção, seja em casa, ou na escola espaço onde passam a muito tempo. De facto e na maior parte dos casos, designadamente, nas tentativas de suicídio, pode ser possível perceber sinais e comportamentos indiciadores de mal-estar. Estes sinais não podem, não devem, ser ignorados ou desvalorizados.
O resultado pode ser trágico.

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