AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 25 de abril de 2010

OS TRÊS D(S)

Os grandes objectivos do processo desencadeado a 25 de Abril de 1974 eram muitas vezes referidos como os três Ds, Desenvolvimento, Descolonização e Democracia, a ordem não me recordo. Apesar de estarmos a viver esta história e, portanto, da falta de distância que sustente avaliação mais lúcida, creio que podemos afirmar que, basicamente, se cumpriram.
No que respeita ao Desenvolvimento, o País actual, em termos sociais, saúde, por exemplo, culturais, estilo e qualidade de vida, etc., tem pouco a ver com o Portugal de antes de 74. Este desenvolvimento foi global, para o melhor e para o pior. Em algumas áreas atingimos mesmo níveis impressionantes, temos uma densidade de rotundas, telemóveis, auto-estradas e betão à beira-mar que nos colocam na vanguarda. Também cresceram e se desenvolveram, por exemplo, a ineficácia da nossa administração pública, um sistema de justiça moroso e injusto, o nível de corrupção, etc. No entanto e apesar de tudo, o saldo pode considerar-se positivo.
Quanto à Descolonização a história parece afirmar que, nos termos em que a situação estava, dificilmente, poderia ter sido de outra forma. Apenas permanece por definir, de acordo com o inimputável Alberto João, a situação da colónia da Madeira.
Finalmente a Democracia. Começámos por aprender a viver numa Democracia, poder votar em eleições livres e gozar da liberdade expressão, foi demais. No entanto, a democracia política e a participação cívica foram-se confinando a uma partidocracia, a participação política dos cidadãos fora da esfera dos partidos é, quase, inexistente e também vamos assistindo a alguns “enviesamentos” do que podemos chamar de vivência democrática.
Apesar destes aspectos menos interessantes, podemos, creio, afirmar, como referi em cima, que, basicamente, aqueles três Ds de 74 se cumpriram. Temos agora como enormes desafios outros três Ds, Divergência, Depressão e Desconfiança. A Divergência do nosso trajecto face aos nossos parceiros europeus que nos mantém, apesar do nosso progresso, ainda longe dos patamares atingidos pela maioria dos países. A Depressão económica que influencia o maior problema que actualmente enfrentamos, o desemprego e a Desconfiança que sentimos pela generalidade da classe política e pelas capacidades e recursos que temos, o que compromete seriamente a confiança no futuro, continuamos tristonhos e meio resignados.
Veremos o balanço daqui a uns anos.

2 comentários:

  1. Não compreendo como é que os novos D's - divergência, desconfiança, depressão - se podem coadunar com o cumprimento do Desenvolvimento. Se tivesse existido mesmo esse D, estes três novos D's não se verificariam. Além disso, durante o Estado Novo, houve mais crescimento e menos divergência do que depois de 74.
    "Entre 1950 e 1974, a economia
    portuguesa reduziu a diferença em 18 pontos percentuais para os países da União Europeia a 15, passando a representar 65% do PIB per capita desses países. Fonte: Abel Mateus - A economia portuguesa desde 1910.

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  2. O sentido que pretendi dar a divergência, foi no sentido do agravamento de desigualdades sociais. Como certamente compreende as questões emergentes da disparidade social, desconfiança e impacto da crise (depressão), afectando milhões de portugueses não afectam todos, os mais "desenvolvidos" são bem menos afectados, veja, por exemplo, o comportamento de alguns nichos de mercado que têm como alvo as classes mais favorecidas.

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