AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 29 de março de 2010

UM PAÍS DE DESPORTISTAS

Ciclicamente, só para nos arreliar e dar cabo da nossa auto-estima referem-se à nossa pouca apetência pelo desporto e actividade física. Um estudo há algum tempo realizado pela GFK, empresa de estudos de mercado, referia que muitos portugueses, quando não estão nos locais de trabalho, estarão de pijama, sentados num sofá à frente de um ecrã. Os resultados do estudo sobre a ocupação dos tempos livres mostraram que 96% dos portugueses tem como principal actividade ver TV na qual gastam 37% do tempo. Ficamos ainda a saber que 40% gasta 8% do tempo a ver filmes (DVD). Os portugueses usam 22% do seu tempo livre a navegar na Net e 9% de volta dos livros. Somos ainda os que menos recorremos a actividades de ar livre. Alguns comentários.
Em primeiro lugar, os tempos não me parecem nada livres, ou seja, os portugueses estão completamente “agarrados” e tornaram-se teledependentes. Como sabem, os comportamentos aditivos retiram-nos liberdade pelo que deixemos de chamar livres ao tempo que dedicamos compulsivamente ao ecrã. Por outro lado, parece-me que a fatal atracção pode ser explicada pela qualidade da programação, sobretudo dos canais abertos e generalistas, novelas, novelas e, no meio, pérolas como o Preço Certo ou os programas de discussão sobre futebol. E também temos a Dra. Fátima Campos Ferreira a arbitrar intermináveis e estéreis discussões. No cabo temos overdoses de futebol, actividade cultural de que somos especiais consumidores e até faz menos mal, parece, que ver telejornais. Os dados referentes à leitura estarão provavelmente ligados à atitude séria que temos perante a vida, isto é, se estamos em tempos livres, achamos, que é para descansar e ter que estar a pensar no que se lê, bolas, dá cabo do descanso. O facto de não recorrermos a actividades de tempo livre deve-se certamente ao clima adverso e à excelência e conforto das nossas casas. Gostava de ver as pessoas que andam sempre em actividades de ar livre, como as do norte da Europa, a fazerem essas actividades com o nosso clima. Claro que se também tivessem casas confortáveis como as nossas, não quereriam sair delas e estariam de pijama, num sofá, em frente à TV.
Em termos de actividade desportiva propriamente dita, julgo que é de realçar o hábito bem enraizado entre nós de passear de fato de treino a caminho da bica, pelos centros comerciais ou ainda assistir a um evento desportivo na condição tão interessante de "desportista de bancada" onde até se pode participar num concurso de arremesso no âmbito das claques clubistas. É um começo. Convém ainda não esquecer a quantidade vezes que nos referimos no quotidiano, ao que "fazemos por desporto".
No fundo, somos mesmo um país de desportistas.

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