AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 30 de março de 2010

SOLIDARIEDADE

Como cidadão minimamente atento, tenho acompanhado o processo de reivindicação dos enfermeiros e parece-me relativamente clara a situação de discriminação na administração pública, ou seja, vencimentos diferentes para habilitação semelhante. De resto, desconheço os conteúdos do processo negocial com a tutela.
Também me parece que não pode ser beliscado um direito legalmente consignado, o direito à greve. No caso dos enfermeiros, como noutras classes profissionais, parece-me muito difícil que se possa desencadear uma situação de greve sem que isto implique sérias perturbações para a população, a grande maioria, utentes dos seus serviços. Daí, partir do princípio que a decisão de uma greve é de uma enorme responsabilidade e certamente bem ponderada.
Dito isto, esperava ver por parte dos representantes sindicais dos enfermeiros uma palavra de solidariedade para com os cidadãos afectados pela greve. Estamos a falar de cuidados de saúde. Na RTP ouvi dois representantes da classe, uma senhora enfermeira explicava que no Porto, no Hospital de S. João no Porto e no Instituto Português de Oncologia nenhuma das cirurgias programadas se realizaria. Também em Lisboa o senhor enfermeiro ouvido realçava o sucesso da greve pois os blocos operatórios estavam fechados. Devo confessar que me chocou o tom empregue e a falta de uma palavra dirigida às pessoas que viram adiadas as intervenções cirúrgicas de que necessitam, situação difícil e que os próprios enfermeiros avaliarão melhor do que eu.
Existe um grupo de profissões que pela sua natureza exigem uma solidez ética e deontológica que não podem, não devem, nunca ser descuradas.
Teria sido adequado uma referência de solidariedade e desculpa dirigida às pessoas que esperam meses por uma cirurgia e que vêem traídas as suas expectativas de tratamento. A eventual razão não retira responsabilidades.

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