O Público de hoje apresenta um trabalho interessante sobre as questões curriculares que justificam o retomar de algumas notas que tenho vindo a referir no Atenta Inquietude.
Quando há algum tempo comentei a intenção do ME de modificar o currículo do 3º ciclo, uma necessidade de há muito, sublinhei o consenso estabelecido sobre esta necessidade de mudança e sublinhei a necessidade de ouvir os parceiros envolvidos. Também referi que as razões que sustentam o quadro actual são complexas pelo que a sua abordagem transcende um espaço desta natureza. No entanto essas razões estão também na base, creio, das reacções que começaram a emergir, ou seja, a maioria das vozes entende a mudança como necessária, designadamente a diminuição do número de disciplinas, desde que isso não afecte a Sua disciplina que, aliás, Deve ser reforçada. Esta reacção, diria de corporativismo científico, na linha do “not in my backyard”, é fruto da quintalização excessiva das áreas de saber que se transformam em disciplinas com Donos diferentes. Esta lógica tem informado o sistema educativo e também o sistema de formação de professores durante demasiado tempo, o que alimenta a esta disciplinarização sem sentido, 14 disciplinas para 25,5 horas de aulas no 3º ciclo.
É curioso, e mostra como esta cultura está enraizada, verificar a frequência com que, a propósito de qualquer saber, se defende a existência de mais uma disciplina. A última proposta que ouvi falava da bizarra necessidade de uma disciplina de “Educação Financeira” para ensinar os meninos a poupar e consumir.
Não creio que a discussão em torno de “a minha disciplina é mais importante que a tua” contribua para necessária mudança. A Lei de Bases do Sistema Educativo define para o Ensino básico um modelo de área científica e não um modelo de disciplina, só presente no Ensino Secundário. Creio que o caminho mais eficaz será estabelecer, ouvindo quem seja de ouvir, as competências científicas e pessoais de que a educação deve ser responsável, por ciclos e por anos, embora me pareça que se deveria modificar o actual quadro de três ciclos, de 4, 2 e 3 anos. Depois deste processo discute-se então qual o desenho curricular mais ajustado aos objectivos a atingir e as formas de avaliação e regulação do trabalho de alunos e professores.
Finalmente, considerando a questões de indisciplina neste momento tão integradas na agenda, parece-me de sublinhar que uma mudança permitiria muitos professores pudessem ter mais tempo com menos alunos o que permitiria criar relações e referências reguladoras dos comportamentos escolares e sociais.
O que me inquieta é que a tutela já anunciou que a mudança será um "mero ajuste".
O problema Português é que nos últimos anos se têm sentado nas cadeiras do Ministério, muitos políticos (alguus que se diz terem sido professores!) que na realidade ou NUNCA trabalharam em nenhuma Escola (senão uns dias ou meses) ou então viveram, frustradamente, largos deias de amargura nessas funções e, logo que viram o furo… pisgaram-se! É só ver quantos Ministros passam pelas pastas sem terem experiência de terreno. Se de uma colecção de cormos se tratasse, a Ministra Maria de Lurdes Rodrigues seria, seguramente, o cromo mais caricaturado.
ResponderEliminarOra, com Ministros que raramente passaram por experiências em escolas de outros países europeus, que apenas conhecem a realidade a partir de livros ou filmes mais ou menos caricatos, têm uma perspectiva muito limitada da Educaçao. Outros governantes desta pasta, depois de terem leccionado em alguma ou algumas escolas (onde permaneceram toda uma vida, ou passaram alguns meses!) têm uma visão da realidade que é muito restrita. Por isso, aplicam o que ouviram dizer, não têm um programa pré-definido que possam apresentar ao povo, chegam ao lugar de mnistros por nomeação e não por competência... E lá fazem mais umas experiências. E depois, é o que dá... Uma salgalhada. Seria sobremaneira importante que os governantes conhecessem, com uma experiência “por dentro”, outros sistemas de ensino, outras escolas, outras formas de organização curricular...
Em Espanha, já agora, o ensino primário vai até ao 6º ano de escolaridade, existem especialistas (de Inglês, Expressão Plástica, Educação física...) que entram na sala de aula, libertando os titulares das turmas para outras tarefas pedagógicas importantes para o êxito escolar.
Na Galiza, os professores do 1º ciclo exercem funçoes docentes com alunos APENAS 22 horas semanais (em Portugal 27 ou 28 horas!). Das 25 horas do horário semanal de permanência na Escola, apenas estão com os aluno durante 22 horas. A monodocência não existe. Portugal vive ainda no século passado... Que esperam do Sistema Educativo em que um professor para além de ter de tocar 7 instrumentos, ainda tem de fazer o papel de AMA, de PSICÓLOGO,... ? Com as políticas agressivas de desautorização dos professores, teremos cada vez mais professores a ferequentar os psicólogos e psiquiatras. E, porque hoje em dia já não há avós que queiram aturar os filhos de seus filhos (netos!) por sentirem que estes estão muito mal educados e que já não estão na idade de aturar tamanhas faltas de educação. Por isso, obrigar os professores a trabalhar com mais de 20 alunos, durante mais de 40 anos (como será o nosso caso!) é uma autêntica atrocidade que deixará, seguramente, muitos professores “à beira de um ataque de nervos”! Não Calarei A Minha Voz... Até Que O Teclado Se Rompa !