AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

TAL PAI, TAL FILHO

Desde há muito que os estudos, designadamente no âmbito da sociologia da educação, associam a carreira escolar e o estatuto profissional dos filhos ao nível de escolaridade e estatuto económico dos pais. Também sabemos que isto é tanto mais evidente quanto maiores são os níveis de desigualdade. Em Portugal verifica-se um dos maiores fossos entre ricos e pobres da União Europeia pelo que a relação entre os níveis escolar e salarial dos pais e os dos filhos é ainda mais forte. A situação sempre assim foi, ainda me lembro de quando era pequeno haver quem se admirasse do meu pai, um serralheiro, ter decidido que eu continuaria a estudar.
Deste quadro resulta uma complexa situação que poderemos de forma simplista colocar nestes termos, a escola ao acabar por reproduzir a desigualdade social à entrada, compromete o papel fundamental que lhe cabe na promoção da mobilidade social, ou seja, a escola que deveria ser parte da solução, na prática corre o risco de continuar a ser parte do problema. No entanto e apesar disto, creio que muito poderá e deverá ser feito no sentido da promoção efectiva da chamada e distante igualdade de oportunidades.
Do meu ponto de vista, muitas vezes aqui afirmado, a questão central é a qualidade na escola pública. Esta qualidade deverá assentar em dois eixos fundamentais, a qualidade considerando resultados, processos e gestão optimizada de recursos e, segundo eixo, qualidade para todos, a melhor forma de combater os mecanismos de exclusão e a desigualdade de entrada.
Continuo a insistir que a desigualdade se combate dentro da escola pública e não subsidiando a frequência do subsistema privado como algumas vozes defendem com a crença, ingénua ou demagógica, de que as boas escolas privadas aceitarão o filho da minha empregada, que não tem grandes notas, só porque no fim do mês ela terá um cheque do estado para pagar a elevada mensalidade.
Finalmente, volto ao que nos últimos dias aqui tenho repetidamente referido, urge a definição de uma política educativa para o médio prazo, estabelecida com base no interesse de todos, com definição clara de metas, recursos, processos e avaliação. A continuar na deriva a que nas última décadas nos entregamos, daqui a algum tempo OCDE virá dizer exactamente o mesmo.

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